Na Beira da Sanga
Odilon
Ramos
Ali, na beira da sanga,
Naquela pedra bem grande,
Onde ao teu lado sentei,
Risquei, com meu canivete,
As iniciais do teu nome,
E o dia que te encontrei.
Quanta lembrança bonita,
Um instante assim
Nos deixa pra recordar depois,
Acho, que até a sanguinha,
Passando naquela pedra,
Tem saudade de nós dois.
O teu riso misturado
Com o riso da correnteza,
Brincando nos pedregulhos,
E os nossos pés, dentro d'água,
Alterando a voz da sanga,
Bolindo com seus arrulhos.
Os teus olhinhos ariscos
Acompanhando os meneios
Da dança dos lambaris,
E inticando
com agente
Lá de cima de um pinheiro,
Gritavam, dois bentevis.
Abre a boca, e feche os
olhos,
E uma pitanga vermelha
Aos teus labios
vermelhou,
Sem dizer roubei-te um beijo,
Que foi o beijo mais doce
Que a minha boca provou.
Vi teu rostinho corando,
Vi teus olhinhos brilhando,
De susto, medo, e emoção,
Vi outra sanga brotando,
Da vertente dos teus olhos,
Pro rio do meu coração.
Hoje ali na mesma pedra,
Inda ouvi o riso da sanga
Que o teu riso me lembrou,
E aquela felicidade,
Foi semente de pitanga,
Que a correnteza levou...
Quanta lembrança bonita,
Um instante assim
Nos deixa pra recordar depois,
Acho, que até a sanguinha,
Passando naquela pedra,
Tem saudade de nós dois.