JUDIARIA

                                                         Odilom Ramos

 

Que judiaria, guria...

nós dois se querendo tanto,

tão perto e tão apartados.

 

O destino calavera,

fechou prá nós a porteira,

deixando a gente embretados.

 

Eu de cá... te cobiçando...

tu de lá... “zóio comprido”...

e um sentimento doído,

apertando o coração.

 

Só o vento companheiro,

serve de nosso chasqueiro

traz suspiros de saudade

leva notas de afeição.

 

De noite, quando solito,

no meu rancho, me arrincono

e o pensamento vagueia,

que nem cachorro seu dono.

Fareja a lembrança tua,

uivando, olhando prá lua...

que a saudade, não tem sono.

 

Se mateando, me distraio.

Acarinhando esta cuia,

arrendondada e pequena,

é como se acarinhase,

tua carinha morena.

 

Olho prá dentro do mate:

entre água, erva e espuma,

lampeja a luz do lampeão...

 

... e os meus “zóio”se perdendo...

sabe o que eles tão vendo?

Teus “zóinho” pedichão...

 

E quando, a franja do pala

por entre os dedos, tenteio,

num descuidado passeio,

fingindo vaidade e zelo,

como um piázinho sonhando,

eu brinco, que estou brincando,

com a seda do teu cabelo.

 

Se no meu catre me atiro,

p’ro meu descanso sozinho,

me viro, viro e reviro,

pensando nos teus achegos...

e a maciez dos pelegos,

parece que tem espinho.

 

Peleio cós pensamentos,

esporeio o sentimento

do coração aporreado.

E me queixo, abichornado,

da madrugada que é fria.

 

... Que judiaria, guria!

Nós dois se querendo tanto,

tão perto... e tão apartados!...