Um Certo Capitão Mariano Flôres
Moisés Silveira de Menezes
Um
regimento aguerrido
viu-se preso de repente
numa engenhosa emboscada,
a
frente mil de a cavalo
fina flor da descendência
da
gente de Souza Neto,
quase isso a retaguarda
infantaria de lei
gente experiente, quadrado
mosquete, sabre francês
estudados na cartilha
do velho mestre Sampaio.
O olhar varre a direita
socavões,
cerros, peraus
travessia
intransponível
escarpas além
dos olhos
cortina de
cerração,
cruzam balas
sibilando
num deboche de
mau gosto,
por sobre a grimpa dos cerros
a morte espreita
em silencio.
Achicou-se num
repente
o mundo da pampa
larga
de gastar potros
e arreios
Recorrendo
o flanco esquerdo
percebeu perfeito o cerco
quando banhados e chircas
tremedais
e sumidouros
descortinaram-se aos poucos.
Saberia
o comandante
por certo, pensou Mariano
sair-se dessa enrrascada
a
ele, então caberia
comandar seu esquadrão
fosse quem fosse o contrario,
qualquer que fosse a proposta
Cepa moura, o velho avô,
vaqueano de
campo e guerra
bandeirando
um pala índio
cruzara
riscando mapas
a pampa sul-amerindia.
Comandou cargas de lança
contra Rosas, Oribe e Aguirre.
Por capricho e por ser guapo
Caronte veio
encontrá-lo
já mui lejo dos oitenta
à sombra das
casuarinas
nos campos do Chiniquá.
O pai,caudilho de escol,
montando um zaino tapado,
rubro lenço drapejando
espada folha de Espanha
cortou caminhos e homens,
corpeou ponteiras de lança
zombou de balas e adagas
nas guerrilhas de Aparício.
Permitiu-lhe
ainda o tempo
que transmitisse um legado:
-Honrar
o lenço e a bandeira
Recuar!? Nunca! Jamais!
Montaram trezentos homens
Mariano Flôres
ao centro
Vulcano incendia o campo.
Trovejam cascos, tambores
lampeja um furor
nos olhos,
centaura
herança beduina.
Partiu-se o quadrado infante
ao choque da
quinta carga,
onda de homens e
potros,
zunidos, brados,
relinchos
aquarela
tenebrosa,
sinfonia
barbaresca
numa ode a
liberdade.
Vida
e morte se entrechocam
em
honra a um deus insaciável,
fantasmareia uma sombra
povoando a tarde brumenta.
-
Chamem o velho barqueiro!
Que
um azulego estreleiro
esbarrou no rio Estige.
Apeou
seguro e com jeito
de
quem leu vida e destino,
um
capitão comandante
que honrou legado e herança
querência, lenço e bandeira!!!