Um Canto Para Matear
Solito
Moises Silveira de Menezes
Quando
o sol vai despacito
me quedo mateando quieto
no velho ritual campeiro
que faz ausentes de afeto
buscar refúgio no amargo,
vida verde, vida em pó
rico ancestral lenitivo
parceiro dos que andam só.
A
lua vem debruçar-se
no portal da solidão
em tênues raios de prata
clareando o velho galpão,
fresteando as paredes velhas
chegam as vozes da noite
que a meus ouvidos cansados
trazem sibilos de açoite.
A
cuia passeia inquieta
como se ave noturna
que risca olhos punhais
na ampla noite soturna,
só o chispar das labaredas
aos grilos em contracanto
compõe mais uma milonga
pra um mundo de desencantos.
O
mate desce queimando
na gargante ressequida
parece que nessa noite
nem Caá-Yari dá guarida
a quem cansou do caminho
e de partir sem chegar
fez da vida uma tapera
na velha sina de andar.
Uma
saudade importuna
amarga mais esse mate
descompassa tanto o peito
que o coração pouco bate,
aquerenciou-se essa louca
sem ter convite pra vir
que até nem sei se é bom ter
saudade ou não pra sentir.
Uma
inquietude interior
que faz a noite silente,
o sonho muito distante
como se estrela cadente,
me gusta um mate solito
nesse esperar não sei que;
saber de andar o sentido
talvez, da vida o porquê.