se
desprende do infinito
e vem
me falar de manso
pela
boca escancarada
de
uma guitarra fantasma
que
assombra as sombras do rancho,
miro
os sulcos do meu rosto
no
vidro gasto do tempo
tentando
encontrar motivos
prá
fazer da vida um canto.
Insano,
busco incessante
razões
de canto e viver
e
amalgamar a existência.
Mas,
quando a mente se acalma
viajo
pra os longes de mim,
motivos,
então percebo
na
aura resplandecente
de
um retratinho pequeno,
guardado
nos escaninhos
das
algibeiras da alma.
Um
vazio grande me emponcha
libertando
um sonho ingênuo
do
sóbrio quarto minguante
onde
moro, vez por outra.
Os
olhos se alongam, se alargam
querendo
divisar a silhueta
do
galpão, etéreo templo
onde
o verso tem o encargo
de
aproximar as distâncias
e
formatar as ausências.
Me
dirijo a passos lentos
a
essa pirâmide campeira
que
brotou das mãos virtuosas
d’álguma
deusa charrua.
Sei
que os parceiros virão:
-
Por Deus, que tenho conciência
que
não vou cantar sozinho.
Fogo
aceso, a pura, o amargo
e a
guitarra vidalera
pra
receber a irmandade.
No
relance, diviso ao longe
chegando
dos quatro cantos
da
minha terra bendita
esses
monges feiticeiros
da
tribo nômade e andeja
que
faz do verso, um relicário
pra
enclausurar devaneios.
Sorvo
um mate, uma tragada
e a
emoção aprisionada
dispara,
quase que em prece.
Que
se abram as cancelas
que
se mande aos céus, poesia
pra
acalmar as divindades
protetoras
do meu pago.
Abram
canchas pras guitarras
sonorizando
o galpão,
pois,
andarengos do verso
pedem
permisso e pousada;
são
bardos rudes, insensatos
que
vêm tapados de poeira
domando
rimas e ventos.
Quem
faz poncho da poesia
não
sente os golpes do tempo
tampouco
não se amedronta
com
sorte, azar ou destino.
Pois
a vida é somatório
de
momentos concedidos
pelo
Grande Pai de todos.
Quem
traz um verso nos tentos
tem
alento, pras andanças
e
lenitivo pra alma
que
busca paz nos caminhos.
Confrades
de amansar rimas
gineteando
corda aladas
com
mãos de acariciar china,
na
mais xucra sinfonia
de
ventos, sonhos, anseios
e
notas despretenciosas
que
brotam brejeiras, “alpedo”,
do
sinuoso das guitarras:
O
verso é um flete de sonho
que
não volta mais, pra gente.
Da
alma aberta, quem canta
como
se, brisa ou cigarra,
por
certo encontrou as razões
da
própria razão do canto.
Por
algo, minhas razões
vem
da saudade morena
com
olhos de noite clara
sorriso
doce de aurora,
andar
macio de corruíra
e
alma inquieta de andorinha.
Por
isso canto o amor
e,
por certo, a ausência dele,
pois,
não há que não se abrande
com
a flor que brota da alma
e
povoa a soledade
tomando
forma de poema.
Então,
cantarei a todos,
a
quem me quer, a que me quis
e
aos irmãos da confraria
de
insônia, versos e guitarra.