PORTEIRA FECHADA... NÃO SE VÊ
NINGUÉM VOLTANDO
Moisés
Silveira de Menezes
morreu nos braços da mãe
num
casebre de arrabalde,
João
Guedes cerrou a porteira,
agora... a do coração...
Já
não sentia mais nada,
não
sentia, nem sofria,
nada sabia dizer, nada podia fazer,
vivendo assim retirante
se
esvai repartida a vida...
um
mundo posto de lado
outro deixado pra trás.
Uma
hipoteca vencida...
o
patrão perdera o campo
sinistro pêndulo humano
no
galho alto do angico.
Uma
primeira porteira
fechara-se para João Guedes,
o
campo agora é passado.
À
frente um futuro incerto.
Vendeu
um resto de safra
mulher e filhos por diante
garrou a estrada do povo
com
jeito de nunca mais.
O
luzeiro da cidade
atrai homens como insetos
sem
perdão depois os larga
pra
o lado sombrio da vida.
A
infância uma pandorga
sem
sonhos para voar
inocência aprisionada
no
sinuoso dos becos.
O
tempo jamais permite
descaminhar o caminho
talvez por isso na estrada
não
se vê ninguém voltando.
A charla com outros parias
na
pulperia à tardinha,
recuerdos de um braço forte,
de
fazer parar uma armada
campeando as aspas de um touro.
No
pó dos dias, das ruas,
uma
alpargata barbuda
tranqueia atrás de trabalho
enquando a mulher fenece
cuidando filho e faxina
e
o mouro, amigo do arreio,
sombra, na sombra do oitão.
Silhuetas
em movimento
numa noite muito escura
no
ermo de uma restinga.
Uma
voz corta o silêncio:
-
Levante as mãos teje preso!
Bateu
na cara, de seco,
a
mais cruel das porteiras.
Maleva, agora João Guedes
pena na cela pequena,
bem
menor que a vergonha,
a
dor de ter sido pego
carneando chibos alheios.
Tempo
depois, asas livres
não
tinha o olhar de antes
fechou mais uma porteira
ao
trocar fletes e arreios
pelo caderno da venda.
A
vida parece um brete!
Uma
filha criou asas
a
outra, que Deus a tenha,
o
guri, há de ser Bueno.
Parece,
agora, entender
porque na estrada do povo
não
se vê ninguém voltando.
Ninguém
sabe, ninguém viu,
o
corpo encontrado
numa manhã brumarenta
olhos no céu, beirando a sanga.
Tenho
pra mim, desta vez
que
a mão pia e caridosa
abriu pra ele, afinal,
a
derradeira porteira
mostrando-lhe um campo novo.
Se
certo?! Ainda não sabemos,
porque também nessa estrada
não
se vê ninguém voltando.