SAUDADE
Maria Pampin
Desse meu tempo de antanho
Que se foi como a água da sanga
A saudade se arremanga
E vai doendo no peito
Corroendo o coração
Com jeito bem igual ao do cupim
Que leva o cerno até o fim
Deixando o lenho desfeito.
La fresca !... Como foi triste
A gente se quis desde a infância,
Dois piás da mesma estância
Olhando a mesma tropilha;
A aprender como se encilha;
Como ser marca e se doma,
O mesmo rumo se toma,
Seguindo na mesma trilha.
E, nomás,
sem nos dar conta,
É o tempo que foi contando
E pouco e pouco revelando
Nosso inocente segredo.
Só de pensar eu tinha medo
Que se acabasse essa infância
Que nos separe-se a distância
Quebrando nosso brinquedo.
La fresca !... Com foi triste
Esse guascaço dos anos
Veio o tropel dos desenganos
E tu te foste a "lo léu"
Sem alarde ou escarcéu
Ao tranco, sem despedida,
Foste brincar na outra vida
Na Estância Grande do Céu.
Só restou daquela estância
O regalo que ao fim me deste:
Uma pequena flor silvestre
Que eu nem sequer sei o nome
Enquanto o tempo a consome
Eu vou mermando, solito,
Tu nem sabes da desdita,
Não há consolo que a dome.
La fresca !... Como foi triste
Pra um xirú suportar
E não há como estancar
A saudade desgranida
De roldão eu levo a vida
Ao rumo do meu destino
Que é um laula teatino
Com a esperança perdida.
Esta saudade sotreta
Traz o meu peito doido.
E o coração corroído,
Como o cerno, não resiste,
E a saudade que insiste
-Se eu pudesse voltar à infância
Ou rumbear pra tua nova estância ?!...
La fresca !... Como estou triste !