REMINISCENCIAS

Maria Pampim

 

Nasci num rancho bem pobre

Mas, num distinto rigor.

Meu pai, monarca senhor;

Minha mãe, senhora do rancho

Onde inda hoje me acancho,

Pra causos de valentia

Que na infância eu fazia,

Diabruras, de carancho.

 

Bem perto do alambrado,

Do lado, junto à restinga,

Para lavar a tristeza.

Mas, nunca faltou sobre a mesa,

Cada coisa por sua vez,

A água bem fresca e o pão quente

Que a mãe fazia pra gente,

No forno que o pai lhe fez.

 

No más, um carvão era lápis

E uma tarca o meu caderno.

No galpão, nas tardes de inverno,

(isso, quando em domingo chovia),

era ali, donde me escondia

pra fazer a bruxa de pano

com quem brinquei, ano por ano

e sempre que o conseguia.

 

A minha bruxa de pano,

Ah!... como me entendia.

Sorria, quando eu sorria,

Chorava quando eu chorava,

E somente se aquietava

Depois, com meu acalanto,

Aí, estancava o seu pranto

E a minha bruxa ninava.

 

Partes lindas da infância,

que tantos não dão valor.

Que se foi num corredor

pela distância, sumida,

Que pra traz quedou perdida,

por causa da correria

Que a gente sempre empreendia,

com os tropeços da vida.

Tudo isso passou no tempo,

mas deixou a sua marca.

Nunca mais vi minha tarca.

Extraviou-se o meu carvão,

Caiu por terra, no chão.

E a minha bruxa de pano, coitada!...

Quedou triste, abandonada,

no baú do galpão.

 

E aí, num repente

A gente sente que já cresceu.

E as vezes, nem entendeu

Por que, tudo transformou.

E, eu me pergunto: -O que sou?...

Sou criança, novamente!

E o passado no presente.

Uma ilusão, simplesmente,

Que hoje a vida me presenteou!