ROMANCE DO ERVATEIRO
Marco Pollo Giordani
Nunca aguentara
um corcovo
Nem jardeio
em cancha reta.
Mas tem uma história repleta
De um ofício diferente!
e eu me plancho reverente
Ao contemplar o teu vulto:
Analfabeto e oculto
A margem de tanta gente.
Primeiras geadas de maio
Te retratam despilchado
Pé no chão e remendado,
Para o combate inicial!
E a verde sombra do erval
Se perfila em saudação...
No início da evolução
Do mate tradicional!!
Devagar, subindo as grimpas,
Camuflado na folhagem...
Vais modelando a paisagem
Dos “talos brancos” copados.
Facão grande, mui chairado
Que manejas com destreza
Sem se importar com a
tristeza
De mais um tronco tosado.
Um a um vão se quedando
Até formar-se a arroiada...
E depois dela formada
Vem a vez do parapeito;
Lenha grossa e muito jeito
Para um sapeco de ciência,
Pois aí só a experiência
Deixa a erva sem defeito!
E quando ouço ervateiro
O pipocar da sapeca,
Meu peito selva à breca
Procurando um lenitivo...
Pois o teu porte nativo
É a raça que perpetuas
Guaranis, Tapes, Charruas
Do Rio Grande primitivo!
Depois da quebra - o raído
Atado em taquara mansa.
De quando em vez na balança
O velho facão erveiro,
Por campeador vem primeiro
Defendendo o pão sagrado...
Benzendo em riscos cruzados
Na “mão leve” do empreiteiro!
Xô-égua! Quando me lembro
Que fui erveiro
também,
Minha emoção se sustém
Na tradição que preserva!
E ao olhar pra um pé de erva
Vou campereando
a distância...
Saudosos anos da infância
Que em minha alma se conserva!!
E quando trago nas ventas
Este aroma da erva boa
Sinto no peito a garoa
De muito inverno gelado;
Ouço o chote
resmungado
Da oito-baixos
manheira,
Tendo o oitão da cancheadeira
Como sombras do passado!!
O amargo que agora tomo
Me aquenta o peito oprimido
Por esse ar poluído
Do ajoujado da cidade!
Clamarei por liberdade
Quando findar os meus anos,
Pedindo ao Pai Soberano:
Um erval na Eternidade!!