ODE A SANTO ÂNGELO
Marco Pollo Giordani
Fulgentes moirões da história
Lances marciais do passado.
Chão vermelho que legado
Por sangue dos ancestrais,
Perfilou-se nos anais
Quando o bugre ainda pagão
Delimitava este chão
Sem dobrar-se em vassalagem
Obstruindo passagem
Ao ciclo da evolução!
Evolução - que aos poucos
Foi se tornando odisséia.
Tendo o índio por platéia
No palco verde-esperança;
Moldada a ponta de lança
Quando o rufar de tambores
Denunciava os invasores
Que ao violar lares sagrados
Iam firmando tratados
Com o sangue dos defensores!
Meu pensamento moldura
Dantesco o quadro de outrora.
Pois eu não pude até agora
Saber por que tantos males;
Ao lembrar - Roque Gonzáles,
Rodrigues - João Del Castillo,
Que à morte foram tranqüilos
Por amor à cruz e ao templo
De mártires maior exemplo
Que nestes versos perfilo!
Nesta apoteose de antanho,
Me
entretenho ao versejar...
Sem
entretanto julgar
O índio o padre o
estrangeiro.
É objetivo primeiro
Salientar vivas razões:
Primórdios nas reduções,
Lutas, martírios e preces...
Estóico e belo alicerce
Aos Sete Povos Missões!!
Missões - recanto de bravos
Missões - reduto de santos!
Missões - de Borges do Canto,
De Sepé
- Corregedor!
Missões - um hino de amor
Tão selvagem - tão grandioso
Onde o branco criminoso
Num gesto insano - inaudito,
Cortara a artéria e o dito
De um futuro majestoso!!
E o meu ser - convulsionado
Se volta agora pra ti
- Terra sacra onde nasci
Centenário berço meu
Maior dom que Deus me deu
Foi de cantar tua glória.
Em cada verso a vitória
Da própria realização.
Fogoso meu coração,
Se irmana à mente irriquieta
Junto à alma de poeta
Na mais pura evocação!!
Mil setecentos e setembro
Lenear de nova fase
Firmava Diogo de Haze
Novo local p’ro povoado;
O mesmo que hoje entonado,
Eleva a
olhares do mundo
O labor nobre e fecundo
De excelsas realizações
Onde pulsam corações
De uma cultura viril
Edificando o Brasil
Na capital das Missões!!
Primeiro erguera-se o templo
De pedra grés
e cupim...
Depois colégio e jardim
Romano estilo vistoso
Donde Hentério
Veloso
Descreveu maravilhado!
Assim estava moldado
Na então sociologia,
O que mais tarde seria
Grande centro florescente
Antevisando o presente
Da minha Terra bravia!!!
Das mais distantes paragens
Reuniam-se aqui famílias;
Carretas formavam trilhas
Nas verdejantes planuras!
E aqui ressalto figura
De um dos padres missioneiros
Antonio Sepp
- o ferreiro
Que pesquisou e ao final
Com arrojo triunfal
Fundia o ferro que então
Dava ao Estado e região
Novo rumo industrial!!!
Muitas
passagem de mando
Depois segui-se
ao povoado
A Porto Alegre - Rio Pardo,
Cachoeira e também Cruz Alta.
Neste período se axalta
Doutor Pinheiro Machado
Por te-lo
reedificado
Dando impulso e florescência
E assim em viva ascendência
Brilhava incendiando o chão
O sol da emancipação
Num brado de independência!!
Mil oitocentos e tanto
Setenta e três mais preciso
No calor deste improviso
Minha alma te retrata...
Vinte e dois de março - a
data,
Auréis de um novo princípio
Santo Ângelo município
Se dilata triunfante...
Garboso - naquele instante
Gritavam teus bravos filhos!
Estava aceso o rastilho
De uma expansão fulgurante!!
Ao contemplares agora
Esses primeiros Cem Anos
Santo Ângelo - soberano
“Minha Flor” do meu Rio
Grande:
o teu progresso se expande
na indústria na agricultura,
no comércio na cultura
Desta força estudatil
É o soldado no fuzil
É o braço do operariado
Todos unidos voltados
Ao continente Brasil!!
Nos pastos
rica pecuária
Se projeta em ponto alto;
Roncam motores no asfalto
No intercâmbio dos
transportes
Taças medalhas no esporte,
Assomam em grandiosidade
A franca prosperidade
De um povo livre consciente
Que traz na veia presente
O sangue impulsivo inato
Fiel e heróico retrato
Do missioneiro imponente!!
Venha patrício de fora
Sentir aqui vibrações...
Ver as puras tradições
Que sempre serão cultuadas;
A cor branca colorada
De um passado turbulento
Venha e verás ao relento
A beleza da charrua
Corpo esguio olhar da lua
Volupiando o puro amor
Exulberante esplendor
Da terra que é nossa é tua!!
Contempla lá nas ruínas...
Em cada pedra a argamassa
Feita a suor sangue e raça
De um povo que não se dobra
Que tem coragem de sobra
Força e talento genial
E ouças na Catedral
Os sinos da redenção
Na sagrada comunhão
Que a fé irmana enaltece
Porque o trabalho e a prece
Sempre trilharam este chão!!
E tu que me viu crescer
À fumaça dos fogões
Entretido nos serões
De galponeiros
relatos;
“Entrechoques
maragatos
com bandos de chimangada”
desde então - terra dourada
tu andas dentro de mim!
Como se querendo assim
Me dar vida na expressão
Pintando em veso a explosão
Do teu progresso - sem fim!!
E quando chegar a hora
De receberes meu corpo...
No meu semblante de morto
Terra santa onde nasci
Quero o contraste de ti...
Tão vermelha colorida...
Me dando na despedida...
A derradeira impressão
De sentir no coração
De novo o pulsar da vida!!
E que minha alma - Senhor,
Jovem inquieta apaixonada,
Vagueie nas madrugadas
E em tirões
de sol poente;
Tire nado nas vertentes
Na pureza destas águas...
Lavando manchas de mágoas
De algum tacuru
passado
Por certo - ao ter gauderiado
Junto ao corpo campeador,
Pecou mas só por amor
À prenda - e ao solo adorado!!