NAMORO
Marco Pollo Giordani
1ªparte
MACHO
Pra bem verdade, chininha,
Nem lembro o tempo que faz...
Foi depois daquela noite,
De encarangar até a alma,
Que com jeito e muita calma
Te enrolei no bichará!
Andei curiosando
a tulha...
Te asseguro que faz tempo!
Nós dois juntos já comemos
Pra mais de arroba de sal!
Bueno...
Bem sei que não sou potrilho;
Mas sei que sou redomão!
Escuite bem - minha chininha:
Não há freio que me empaque
Nem relho que me aligere!
Sou duro de cozinhar;
Mais louco que o vento Norte!
Escuite bem, porque a sorte
De te amoitares comigo,
Depende muito de ti...
Pois bem dantes já me vi
Co’a presilha da “colhera”!
Como vês...
Plantei morada...
Cerquei brete
- fiz lavoura,
Falquejei cerno
por cerno
Do rancho grande ao galpão...
De quando em vez a ilusão,
Me
desandava em querência!
Porém - a minha intendência
De taura
bagual e rude,
Me diz que o tal casamento
É como uma taipa grande...
Que retouçando
a corrente,
Deixa formado um açude!!
E, eu cresci como os arroios
De águas limpas franjadas,
Que embora façam paradas,
Buscam desvios pelo chão!
Bem pensando - do teu jeito,
Nada me veio ao contrário.
No entanto quero que saibas
Que mesmo sendo arbitrário,
Ando sempre com a razão!!!
Quando eu bandear pra outros
rumos,
Não perguntes pra onde vou
Nem quando devo voltar...
Talvez me interta
no povo
Talvez algum “capim novo”
Faça meu pingo empacar!!
Se um dia eu chegar chumbeado
Chapéu quebrado na cara
Trazendo o laço a cuscada
E levando tudo por diante...
Reza um Credo - te recolhes,
Faça um sinal co’água
benta
Pois depois de uma tormenta
Sempre haverá um sol
radiante!
És bonita... minha chininha...
Mas nem mesmo tua beleza,
Há de plainar
a aspereza
Do cerne bruto que sou!
Se quiseres - será assim
Bem assim como eu quiser!
Do contrário - “te
bandeia”...
Pois eu nunca usei maneia
Nessas lidas de mulher!
Sei que te espantas,
chininha...
Co’a franqueza do meu jeito;
Mas é que trago a rudeza
Desd’a casca a galo feito.
Eu nunca dobrei penacho!
Mas, podes crer - minha
chininha...
Se ficares - podes crer:
Serás feliz em viver
Nas garras de um índio MACHO!!!
2ª parte
CHININHA
Que importa o tempo a quem
ama?
Ao amor só basta a chama
Fluir momento a momento...
Não me cabe o sofrimento
De forçar um bem-querer
Se vim não foi para ter
Respaldo de um casamento!
Amo teu jeito de ser...
Talhado em sinceridade
Tenho você, sou feliz!
Quem é feliz com o que tem,
Não questiona liberdade!!
Sou como a rosa que cresce
Em meio a farpas de
espinhos...
E a rosa...
É igual - tanto faz
Num jardim ou manancial!
Floresce, perfuma e encanta
Até o mais irracional!!
Quando vim - estás lembrado?
Um vento frio desolado,
Chorumingava de encontro
À porta meio caída;
Deu-me a impressão - que a
morada,
Da qual talhaste de entono,
Quedava-se ao abandono
Como as taperas sem vida!!
Aos poucos fui dando jeito...
Ao guanxumal
dei combate,
Pois já mermava
o terreiro;
Fechei horta fiz canteiro,
Plantei sombra e arvoredo;
(Não ouves
de manhã cedo
O grito da passarada?)
No mais...
Penso que uma china
Sendo bonita e sensual,
Deixa um índio mais bagual
Que o bagual mais aporreado!
Por isso - quando te fores
Campear por outros
caminhos...
Disso nada indagarei;
Guardes contigo a lembrança
No largo de tuas andanças,
Que sempre aqui estarei...
Com o mesmo sorriso aberto
Com o mesmo jeito e paciência
De quem ama até morrer!!
Porque um dia - quero crer,
Guardarás - desiludido,
Tuas garras de domador;
E então...terás
decidido
Na completa liberdade
Que só há felicidade
Nos braços do teu amor!!!