MATEANDO
Marco Pollo Giordani
Que pensas, velhito,
Sentado - solito,
Com a cuia na mão?
A cuia te parece um seio duro
Com a mama retesada para o
lado...
Contrapondo entre dedos
calejados,
A maciez da trigueira
adolescente!!
Que pensas, velhito,
Sentado - solito,
A par do fogão?
Tal qual o fogo consumido o cerno
Recolhe o tempo nas cinzas
dos invernos
Largos recuerdos
da vida decadente!!
Quanta saudade, velhito,
Dos tempos da estampa em
flor!
Do corpo rijo - incansável,
Das andanças - sem destinos!
Quanta vontade, velhito,
Dos bailes daqueles tempos...
Dos causos - dos entreveiros
Carreiradas e bolichos!!
Morenas daqueles tempos!...
E aquela ruiva - um cambicho!
de um olhar claro - profundo,
Quando se punha a mirar...
Os olhos daquela ruiva
Bem pensando - pareciam,
Duas estrelas caídas
Nas profundezas do mar!!!
E aquele baio encerado...
Florão de rédea e de pata!?
- Batido enfim - pelo tempo!
Ora... o
tempo!...
Gaudério sisudo e implacável,
Campeador de essências e
matérias!!
Que queres,
velhito,
Olhando o longito
Na hora do amargo?
Campeias além do tempo!
Na visão do nada - brota um
pavor!
- Não sabes de nada...
e afinal, - no
nada,
nem cabe um valor!!
Disseram-te um dia,
Que a morte é a porteira
Dum mundo pro outro!
Depois da porteira...
A estância de Deus!
Ah!... se
na Estância de Deus,
Pudesse montar de novo no
baio...
Campear o gadinho - as vacas
com crias,
Castrar um pavena - lonquear alguns tentos,
Pitar um crioulo - sorver um
amargo!!!
Voltar novamente aos tempos
de então!!
Repontas, velhito,
Mateando - solito,
A tropa dos anos!!
E a tropa ligeira,
Já força a porteira
Da Estância de Deus!
Não temas, velhito!...
Trançaste uma vida -
sofrendo, lutando,
E, em cada pisada que deste
no chão,
Humilde - mas guapo,
Humano - mas taura,
Buscaste o clarão!!
Há de haver um Sol - velhinho
Bueno,
Depois que a noite terrena
mermar no
horizonte!
Por isso - velhito,
Mateias - solito,
Campeando o longito
A par do fogão!!!