JÁ OUVISTE O CANTAR DO VENTO?
Marco Pollo Giordani
Meus filhos indagaram-me
sobre o vento:
- De onde vem o vento?
- Ah!... o
vento...falei-lhes com paciência...
Esse campeiro inquieto,
Assobiar e solto,
Vem de mundos distantes e
revoltos
Repontando cantigas e
saudades!
Um dos piazitos
perguntou-me então:
E o vento canta? - E ele tem violão?
-Claro que canta!
Ouçam essa canção...
...São os dedos do vento
No aramado!!
E os dois piazitos
De olhos dilatados
Ficaram quietos
Como que pasmados
A ouvir o vento
Milongueiro e triste!!
Muito curioso perguntou-me o
outro:
-E o vento tem filhos?
-Muitos filhos...
-E onde brincam os filhos do vento?
Os filhos do vento...
Continuei falando...
Andam sempre em bandos
A mexericar coisas nos
ranchos.
E são arteiros!!
Passeiam nos terreiros
Bulindo nos montinhos
Dos varridos;
Penetram pelas frestas
Das janelas...
E ficam a soprar por sobre as
velas
Das chinas rezadeiras!!
E o vento grande não surra
eles?
-Não. O vento é livre, e livre são seus
filhos.
O vento não impõe como os
caudilhos
Que cerceiam a liberdade dos
pequenos!
- E o vento tem amigos?
-O sol e as estrelas
São amigos do vento!
Pois quando hai relento,
E quando a noite é clara,
Ele campereia
ao tranquito
Pelos campos verdejantes e
bonitos...
E dança sobre o Mar
Tocando as ondas
No responso harmonioso
De um valseado!
- E o vento fica zangado?
- Muitas vezes fica...
quando o Sol se esconde
por detrás de nuvens mui chumbadas
que ficam a mirar pedradas
por sobre o lombo do vento!
Ah!... Quando o vento embrabece!
Até se parece...
No rugir do pealos,
O frenético avançar de mil
cavalos
Com gaúchos invencíveis nas
batalhas!!
E fiquei a falar sobre o
tufão
Ante o mermar
das brasas, no galpão...
Depois...bombiei os piás...quietitos!
sobre o carnal de um pelego,
Aninhaditos...
- Dois viajores
de sonhos encantados!
Ronquei o mate. E a pensar
fiquei...
Naqueles anos felizes que
vivi...
E ao ouvir o vento -
pareceu-me ouvir
As canções do meu tempo de
guri!!