FLOR DE CHINA

Marco Pollo Giordani

 

Cor de cuia mui costeada...

Garrão fino e anca roliça.

Olhar negro que enfeitiça

E derruba o taura cristão!

Não sei por que o coração

Me estala ao lembrar de ti,

Pois desde quando te vi

Fiquei de rédeas no chão!

 

Tranças negras como a noite,

De sensuais lábios polpudos!

Arfando os peitos carnudos

Andar da fêmea no cio!

Volupiando o corpo esguio

Me pialaste sobrelombo,

Sem saber que neste tombo

Domaste um potro bravio!

 

Rosto mimoso, corado,

Sempre ensaiando um sorriso.

Te juro...se for preciso,

Eu morro trançando ferro;

O amor que no peito encerro

Para a pendenga me arrasta,

Touro garraio não pasta

Nem escarva terra onde berro!

 

Não sei por que chinoquinha

Que eu sendo um venta-rasgada -

Depois de tantas jardeadas

Fui perder no partidor;

O flete lindo do amor

Arrancou mordendo a fita,

E te entreguei  - prenda bonita -

Minhas garras de domador!

E as vezes fico pensando;

Como é engraçada esta vida...

Tu tão nobre - tão - querida

E eu - um cara-torta e andejo!
não sei que estranho desejo

Neste cambicho de china,

Talvez o mel ou a resina...

Ao dar-te o primeiro beijo!