CHARLA DO CHIRU VELHO
Marco Pollo Giordani
Sou cria daqui...
Veja vancê
aquela reboleira
De espinho...
Onde ainda restam rastros de
morada...
Pois foi aí,
Que ouvi uma santa mulher
Me chamar de filho!
Faz anos...
Fui crescendo,
Crescendo assim - como as
guanxumas,
Que se afundam na terra...
Bem lá no fundo.
Como eram lindos estes
campos!
Havia gadaria
alçada
E um saleiro grande
Margeando o arroio...
O arroio... de aguada limpa!
Que belezura
d’águas
Eram aquelas!!
Ah!...se
me lembro!
havia fartura...carne à vontade
E indiada disposta!
quanto correr de égua
Fiz aí nessa várzea!
...O fogo - parceiro...
- É bueno
o fumo!
Lá mais adiante...
Ta vendo?
Parece que ainda há um
esteio?
...Era o rancho da Chica...
ah! Parceiro, que chinocão!!
Se me lembro da Chica!
do andar da Chica...
Aquela traseira firme,
Aquela anca volteada...
Mas morreu,
a pobre,
...foi dum raio
numa noite braba de janeiro!
...Lhes
digo:
até depois de morta
A Chica
mexia co’a
gente.
Que chinocão...
Deus a tenha!!
Bueno...las puchas...
Ando meio entrevado
São anos!!
E agora - Patrício...
Ta ai esta imundície de
progresso...
Que coisa nojenta estes
motores
Rasgando esta terra de
primores
Que não acredito ver igual!
Até o patrão mudou...
É outro - agora!
Já não anda mais de lenço
Nem de espora.
Anda outro - o patrão!
foi por causa dessa gente
Lá do povo,
Nesse horror de invenção!!
E quem sou eu agora?
-Um traste velho...
um inútil - eu?
Eu que fui tão guapo!!
Até dão risada da minha
roupa,
Deste meu jeitão campeiro;
Pois parece mesmo - meu
parceiro,
Que morreu há muito
O tempo bom!!
Que vida! - Que ilusão.
Devem ter essa gente
Que rasgam a terra verde,
Que envenenam estas
vertentes,
Que derrubam estas arvres
Em nome do progresso!?
Mas...é o dinheiro - patrão!
Agora eu sei - o dinheiro é
tudo.
E eu, que só tenho
Estas pilchas
velhas...
E aqueles arreios prateados
Lá dependurados no galpão!
Mas tem uma coisa...
Lhes digo e lhes garanto:
Há honra nestes trapos
E há honestidade
Neste coração!!