AO MORRER DO SOL
Marco Pollo Giordani
Pessegueiro - fim de tarde
Quase varando setembro!
venho da luita do dia
Mais suarento e emplastado
Que matungo envergador!
Dou de mão num brim de muda
Mais a esponja e o sabão...
Desço a sanga - passo a passo,
Até a volta do remanso
Onde se forma o poção!
Sem pressa - volteio o braço
Dum jeito bem caborteiro
Igual Capincho
matreiro
Que some num mergulhão!
E o lombo d’água ondulando,
Parece mal comparando
Uma china volupiando
O frescor de um corpo esguio!!
Há um naco de sol poente
Sanguinolando - morrente,
O espelho claro do rio!!
Dou de volta - pelichado,
Mais disposto e alivianado
Que parelheiro postado
No cepo de um pertidor!
Cá do rancho - me aparece,
O Sol - aos poucos quedando,
Um maragato - acenado
Um guapo lenção
de cor!!
Empeço fogo no angico.
Das lavaredas taludas,
Saltam chispas linguarudas
Pro chaleirão
casco preto
Amanunceio a morocha...
Velha cuia de valor!
Apresilho a erva a jeito
Assim como dois amantes
Unindo peitos arfantes
Pras confidências do amor!
Largo um juju
na chaleira
Pros males do coração...
Porque - “la
fresca” - o amargo
Do amargo que agora encilho,
É o repuxo do lombilho
Dessa gueixa - solidão!!
A capricho - acalco a bomba
Bordada de prata fina...
Foi presente da Baldina
- Que se alçou no mês de
agosto -
Na bomba inda o gosto
Dos beijos daquela china!!
Na calma do dia findo,
Me ponho a matear - e é lindo,
Curiosar o passaredo!
Do fragor das revoadas,
Rumam asitas
flechadas
Pros copados do arvoredo!!
Bem no topete do louro,
Chegou-se um bichito mouro
Mais pra jeito de gavião...
Aqui no mais - “ a los diachos”
- Que pelincho
malcriado!
- Não vê que um churriu bragado
- Quase me esterca a bombacha?
E o desgranido
se agacha
Na tronqueira
do chorão!
No cinamomo encorpado,
Se achica - desajeitado
Um casal de barreiritos...
Cantam penúrias? - Pois não!
Cambiou de cerno - o posteiro
Sem se importar com os
barreiros;
Pois ao quedar-se o moirão
Deu-se por terra o ranchito!!
Morre o Sol - esvai-se a tarde...
Brota um silêncio covarde
Que cá por dentro - me arde,
Mais que cachaça de gringo!
É livre o taura
que pensa!
Eu penso nos sonhos meus...
Desfeitos - mas foram meus!
Dando boca ao pensamento,
Cavalgo assim como o vento
O vasto mundão de Deus!!