AO ÍNDIO

Marco Pollo Giordani

Tapete verde-esmeralda

Do campo bordado em flor,

Coxilhas sem corredor

Praias com beijos do mar!
e depois de contemplar

A luxuriante beleza,

Quis o Rei da natureza

Que alguém lhe viesse habitar!

 

Nesse eldorado pampeano

Vagueava a raça nativa.

Rude estirpe primitiva

De origem desconhecida.

E entre cruzadas renhidas

Tendo por armas fascínios,

Delimitavam domínios

Na terra desguarnecida!

 

Eram tupis-guaranis

O troco da descendência

E sobre a vasta querência,

Foram espalhando famílias;

Primeira chama caudilha

Se levantava no pampa,

Emoldurando na estampa

O campeador das coxilhas.

 

A grande tribo dos Tapes

Do Jacui ao Camaquã

- Carijós e Arachãs,

Costeando a grande lagoa

- Minuanos e Guenoas,

Com Charruas na campanha,

Riscavam o solo em façanhas

Livres de jugo ou coroa!!

 

Quando Dias de Solis

Veio de mando da Espanha,

Alvorotou-se a campanha

Num bate-bate brutal;

E neste encontro fatal

Campeou a lança charrua,

Deixando na terra nua

O primeiro intruso real.

 

Cipião Góis também cá veio

Nas barrancas do Uruguai...

Deixando no Paraguai...

Oito cabeças de gado.

E o campo sem alambrados

Do Rio Grande inda criança,

Foi conhecendo a pujança

Do povoamento no prado!!

 

Já ia longe a cobiça

De espanhóis e lusitanos;

Cada qual mais aragano

Querendo tirar partido!
e o índio sendo ofendido

Derramava o sangue à vista

Como preço da conquista

Do solo Pátrio querido!

E os bandos então surgiam

Dando caça ao gado xucro;

Vendiam o couro, e do lucro,

Cambiavam com os invasores,

Faeneros e changadores

Nas ribanças da fronteira,

Depois mais tarde as Bandeiras

Com os chamados “Preadores”.

 

Em cada palmo de chão

Se entropilhava a violência!

Las armas como conciencia

No tribunal das refregas

E o veredito dos “pegas

Virava em carnificina...

Ao som de casco e clavina

No pisotear das macegas!

 

Foi então que neste palco

Veio o Padre Missionário

Tendo por arma o rosário

E os ditos do catecismo;

O índio foi pro batismo

Conhecendo outra doutrina,

Era a palavra divina

Nos moldes do Cristianismo.

 

Nascia então as Missões

Estóico marco de glória

Épico tronco da história

Da evolução nativista;

Glossário de uma conquista

Da batina missioneira,

Impondo à raça guerreira

Um sentimento altruísta.

 

Mas quem diria que o índio

Liberto e catequizado,

Depois de ter derramado

O suor nas reduções,

Fosse alvo de inscursões

Tão cruel e degradante


Do arbitrário bandeirante

Devastador das Missões!!

 

Veio Raposo Tavares

Minar a paz e a harmonia

Onde bem alto se erguia

A cruz pro céu azulado!

Veio ele o desalmado

Indo de encontro à razão,

De quem se diz ser cristão

E há muito civilizado!

 

E o que resta a Valdelírios

E a Gomes Freire de Andrade,

Se a história conta a verdade

Da chacina em Caibaté,

E em Santa Tecla - Sepé

Maior que um chefe espartano,

Encharca o solo pampeano

Com o sangue mártir da fé!

Pois pode a história negar-ter

Até mesmo um monumento!
mas o holocausto sangrento

Clamou ao céu liberdade

Pois mostraste com vaidade,

Com valor e com entono,

Que o Rio Grande tinha dono

Da mais pura qualidade!

 

Pra mim tu foste maior

Do que o romano...o grego...

Lutaste sem aconchego,

Sem manhas de estrategista;

Lutaste contra a conquista

Do sol que te viu nascer

Do chão que te viu crescer

Com céu e campo por vista!

 

Me orgulho de ter nascido

No mesmo chão missioneiro

Berço e cova de guerreiros

De inigualável bravura!

A sombra de tua figura

Me bate em riba do peito,

Como a exibir mais direito

Que te negou a escultura!

 

A morte - pra ti nativo

Não foi fim mas o começo

O teu sangue foi o preço

Do mais sagrado ideal;

A nossa raça o porta

Legado por tua glória,

Que ao morrer - gritou pra história:

Eu sou o Gaúcho - Imortal!!!