RESTOS DA ALMA

Marco Antônio Dutra

 

Um homem que vive só

sempre trilhando os caminhos,

busca na sua quietude

um alento pra solidão.

 

Em sua alma campeira

traçada pelos caminhos

dessas campinas do sul

vem remendando os pedaços

que foram estilhaçadas,

em convivências humanas.

 

Hoje, em sua vida ermitão,

arranchado no posto do fundo,

raramente vê gente

E prosear, muito menos.

Pois tem na volta das casas

quietudes pra uma vida de paz.

 

Quando a cara do sol

espia por trás das coxilhas

querendo arregalar o dia,

o encontra mateando

junto ao fogo de chão,

cambiando algumas carícias

sobre a cabeça derreada

de um cusco companheiro,

adentro ao calor das brasas.

 

Depois da longa mateada

em parceria do fogo

e o rigor do minuano,

revive na sua alma

remendada de ausências

um rosto em meio as brumas

de um antigo cambicho,

que ficara pata trás.

 

O sol já alto do chão

fazendo sombra comprida,

o convidava pras lides

de apartes e marcação

Mas tudo no faz de conta

Pois um brasino afamado

deixado de muitas tropas

o estropiou pros arreios.

 

Não há mais vida na alma

de um campeiro aleijado

existe apenas um corpo

que não se deu por vencido

E numa busca insana

vagueia nas madrugadas

campeando um resto de vida.