PRELÚDIO DE UMA GUITARRA EM NOITE DE LUA GRANDE
Marco Antônio Dutra
Quando um acorde solene
Desgarra do alambrado
das cordas do violão,
Em contraponto a lua,
atorada pelo horizonte,
vem estender acolhida
nesta milonga sureña.
Os dedos vão deslizando
por este corpo moreno.
Arrancando ecos sonoros
em notas de melodias,
juntando a voz de um cantor
a fundir o corpo e a alma
numa bela canção de amor...
Na intimidade do abraço
Que o guitarreiro acomoda
Sobre as curvas da guitarra,
relembra um casal de amantes
sob a vigília da lua,
espiando por traz de um cerro
à não mostrar-se curiosa.
E no ponteio das cordas
os dedos vão galopeando
entre as notas musicais,
acolherando partituras
de imutáveis milongas
dessas, de parceria com Deus,
em noites de inspiração.
Nas rondas pelos fogões
de rudes e buenos campeiros,
és o lenitivo corpóreo
pras horas de insensatez,
pois cala as dores do corpo
massageando as penas da alma,
por um dedilhar de mãos leves,
em doces mazurcas de lei.
Arranchada pelos bolichos
do Rio Grande e Uruguai.
Pelas pencas de cancha reta,
em tavas e rinhedeiros.
Em parceria com gaitas
nas bailantas de ramada.
E varando as madrugadas
nos surungos de galpão.
Em noites de lua grande
espaldeada as costas de um gaúcho
sobre a anca moura de um pingo
prenuncia o seu destino
de bordonear acordes sublimes
para as carícias mais íntimas,
junto as morochas Del sur.
E lá do fundo da noite
Ressoa uma voz bem grave
recitando uma poesia,
pedindo: Me abram cancha,
pra uma guitarra madrinheira
Pois hoje vozes e sons
vão parir rimas perfeitas
para preludiar as manhãs...