MONARCA

Marco Antônio Dutra

 

Nos anteontem do tempo

Campeio recordações...

E trago para a memória

A estampa do meu avô.

 

Os olhos parados no tempo

As lembranças que vão passar...

 

Contavam que quando novo,

Índio guapo e peleador

De dia as lides campeiras...

E, ao luar com bois e arado...

O viam lavrando o chão.

 

Mas como todo mocito,

Também tinha seus cambichos

E lá no fundo da alma

Quando chegava aos bochinchos.

Bombeava para as percantas

Falando com o coração.

 

Nas lides, fazia de tudo.

Guasqueiro por excelência,

Em tranças era um colosso

Quem o visse trançando cordas

Para os aperos de prata,

Jamais imaginaria

Que essas mãos serviram a guerra.

 

A lavoura como era linda!

O pomar, a criação,

Pois tudo que ele fazia

Era com muita perfeição.

E a brisa da memória

Trouxe-me mais uns recuerdos...

 

As carreteadas dos tempos

Que fizera à capital.

Também andou com comboio

No longínquo litoral.

 

Quando proseava com as filhas

Ao derredor do fogão,

Tinha sempre ensinamentos

Para os retrucos da vida

E os segredos do coração.

 

Na vida passara por tudo,

Pois corria em suas veias

O velho sangue farrapo

Deixando com legado

O amor por esta terra.

 

O tempo troteou depressa,

Nas invernadas da vida.

 

E aquele taura camapeiro,

melenas de muitas geadas

As mãos tratadas a cordas

pelos repechos da vida.

Calçava as velhas tamancas

e a bombacha de riscado

Como a pedir porta do brete

Para as Campinas do Céu.