MÃE, MULHER ANGICO
Marco Antônio Dutra
Nas arrancadas da vida,
foi marcada pra sofrer.
Pois desde já muito moça,
Estava escrito o seu destino.
O jeito de menina,
Com feijões já de mulher,
Mostrava nos duros traços
A austeridade do saber.
Como se possuísse o vigor
de um velho angico.
A enfrentar de peito aberto,
As intempéries do tempo.
Tu mulher, só tu.
Com braços de mulher campeira
E uma força interna,
Tal qual um cerne
De angico velho que,
Nem o machado pode desdobrar.
Há mulher,
Que transformou seu corpo,
pra fecundar sementes,
Inchar barriga, para quatro
filhos.
É mulher...
Quantas vezes fostes à sanga
Lavar as roupas da gurizada.
Que cresceram fortes,
Junto ao apojo das mansas
tambeiras
Que nas madrugadas frias
Tu mesma tiveste que
ordenhar.
Quando passava as lições
Preparando os filhos pra
vida,
Era a própria essência do
pampa
Pois honestidade e bondade
Trazia presa nos tentos.
Sim Mulher,
Foi a
companheira eterna, de um homem só.
Pois acreditava que, se Deus uniu
Nem a morte pode separar.
Mulher!
Que fincou funda,
As suas raízes
Pra proteger seu rancho.
E tirar da terra,
A seiva que alimenta
O amor por este chão.
Hoje com a estampa cansada
Sulcos no rosto, e olhar
perdido,
a mergulhar no tempo.
Como a rebuscar, a menina
moça.
A mulher frondosa com braços
vigorosos,
A mulher angico.