DIA DE PEÃO
Marco Antônio Dutra
Fim do dia
desencilho,
Recolho o pingo pra dentro.
Atiço o fogo
Aqueço a água pro mate.
me sento num cepo retovado,
Pra principiar o chimarrão.
Lá fora o vento mais forte,
Começa a forçar a porta
Como pranchaços de facão.
Por sobre o teto de barro
Os galhos da pitangueira
Acalantam o galpão.
Busco um gole de pura
Junto ao pé do esteio.
Uma pitada mais funda
Do cigarrito de palha,
Me faz clarear a memória.
O piazito se achega
Para a roda do fogo
Abrindo o poncho poído
Sobre o xergão dos arreios
e, se acomoda no chão.
Novamente o vento forceja.
A noite se alonga,
O frio é intenso...
A prosa na roda do fogo
continua,
O mate corre...
A lamparina quase cansada,
Avisa a hora da
"bóia".
O vento
branda
Pra dar lugar a geada.
O mate pára...
Me
enrodilho no poncho
junto aos tições rubros do fogo,
Já quase virando
cinzas
E me acomodo no catre.
Fim de noite,
Primeiros clarões do dia.
aqueço a água do mate,
encilho o baio gateado,
Para as lides de rodeio.
O pingo pateando gelo,
Num capinzito já ralo,
No piquete do galpão
Como me convidando
Para o galope matinal,
Que deixa lavado em suor
Os preparos e o xergão.
Mais um mate,
Pico um naco pra viagem
Um maço de palhas buena
Reviso os peçuelos e
E reaperto o cinchão
Para moldar a badana.
Parto com a comitiva
Rumo a invernada do fundo,
Apartar o gado xucro,
Marcar, curar bicheiras
Revisar os alambrados,
Tirar o gado da enchente
Para as pastagens mais secas.
As horas passam
A tarde chega,
Novamente a
volta pras casas.
É fim do dia...