DE ALMA ENCILHADA

Marco Antônio Dutra

 

Da alma de um campeiro

Nascem viagens de sonhos.

Pois mergulham, nos seus íntimos...

Embalando as esporas,

para poder prosseguir.

 

Com olhos nublados de buscas

Pelos caminhos passados,

Aquece a centelha no peito

pela virada dos ventos.

Que buscam trilhar atalhos

Pra o renascer da esperança.

 

Na barra de um novo dia,

No peitoral da janela

numa casita de tábuas.

Aguarda as chamas solares

Para dar vida aos seus dedos

Encarangados do frio.

 

De rumo para o galpão.

Outrora de grande porte

e cavalhada de lei.

Hoje, encilha a si mesmo,

com retos de velhos aprontes

Para campear suas lides.

 

A jornada é a mesma

daqueles tempos de outrora.

Camperear de sol a sol

no lombo de aporreados.

Agora recoluta sonhos

Nas vias iluminadas.

 

No final da jornada

Quando retorna pras casas,

Nem mais o "mate" lhe espera

para fazer-lhe um agrado.

Sim, existe a preta cambona,

Mas,...Falta-lhe a "erva".

 

Quando os cachorros latiam

contra a boca da noite,

olhando sem avistar...

Previam esses campeiros:

É noite de boitatá.

Uma magia pra gurizada,

de causos de assombração.

 

Homens que tanto fizeram

nos seus tempos de moço,

Querendo apenas, um aparte,

para servir na velhice.

E receberam de herança:

"A beira dos corredores".