AUSÊNCIA DE ALMA CAMPEIRA
Marco Antônio Dutra
A quem chamamos
campeiros?...
Homens rudes, mãos calosas,
pelos traços, um carão.
Destapado das brumas
cinzentas
por um verdor das manhãs.
Em cada pega de potros,
em tironaços campo fora
Reluz em aço as esporas,
relembrando tempos de outrora
nos rinhedeiros da vida,
manchados por rubos de aurora.
Hoje, se encontram guardados
na memória dos galpões.
Onde contam suas histórias
por velhas fotografias
e garras dependuradas
nas paredes dos museus.
Talvez, aquele homem simples.
Que, com o manejo do laço
solta a armada bem grande
e vai cerrando nas aspas
- já quase entrando no mato -
um desgarrado da tropa.
Ou será aquele velho que...
Passou o dia pelas volteadas
do fogo,
fazendo aperos trançados
para amansar os bocudos?
Ou traduzindo ensinamentos
pra gurizada da estância?
Não, um campeiro de verdade,
é um peão de pulsos fortes
que não vergou pelo tempo
e intempéries da vida
Mas sujeitou muitos ventenas
em domas tradicionais.
Um campeiro meus senhores,
é muito mais que estar.
É ter nascido no campo
e crescido junto das lides,
desde o mais simples trabalho,
ao mais rude dos ofícios.
Por isso quando retrato,
essa centaura figura
de centenária existência,
pelos fundões das estâncias.
Meus olhos jaldes gateados
de tanto mirar os campos,
me traz de volta ao passado.
E pelas manhãs de inverno,
quando adentro no galpão,
procuro com os meus olhos
a tua ausente figura, e...
Sinto a minh'alma
em soluços
te pedindo pra voltar.
Nas tardes mormacentas de verão
- onde o sol teima em ficar -
as retinas recriam imagens
duma aguada frente as casas,
onde um gaúcho olvidado,
- com muita calma e perícia -
Alivianava a eguada.
Ah!...E as madrugadas
campeiras...
Quando salta do catre
bem antes de o sol nascer,
e se vai de encontro a mangueira,
num grito de "Forma Cavalo"...
- e numa rara beleza -
se perfilam lado a lado.
E quando o poncho da noite
Encobre as coxilhas verdes,
sob o clarão de um candeeiro
dependurado no céu.
Volto pra o oratório,
Em brasas, de muitos angicos;
Para uma prosa com o Pai.
Senhor!...
Reponte esses homens
campeiros
bem junto à tua morada,
pois foram buenos Gaúchos
pedindo porta na vida,
para a Querência do Céu.