MAIS CONFIDÊNCIAS DE ALGUÉM SÓ, PORQUE SONHOS NUNCA MORREM
Maicon Cigolini
Foi por causa da guerra
Que fiquei só neste mundo,
Já sem mãe, agora sem pai.
Enquanto, na guerra, eles
matam e morrem,
Eu, em casa, ia morrendo
também...
Pouco a pouco desmoronando,
Será que na guerra ninguém
tem coração?
Dez anos de idade e só no
mundo.
Mundo grande...sem
dó nem piedade.
Por 3
meses a aflição tomou conta de mim,
Pra depois devolverem meu
pai...
Um pedaço de papel
Contando do acontecido.
Não foi assim que ele foi
embora!
E agora, que eu agüentasse,
Sem nada, sem ninguém.
As ruas não são um bom lar,
A fome não é uma boa
companheira,
A solidão não esquece
Nas frias madrugadas...
Pras ruas fui
Lutar por minha vida!
Quando você vira um mendigo,
As pessoas mal te olham,
E quando olham, é com aquela
cara de medo...
Você parece um bicho!
Ou então invisível.
- Me dá uma moedinha,
ou um pedaço de pão,
tô sozinho e tô com fome...
E as pessoas não pensam em
você,
E você começa a comer os
restos do que elas comem.
E você passa frio...
E não tem ninguém pra te
cuidar.
Esse é o drama de um órfão!
As ruas são
meu lar,
Do lixo vem meu sustento...
De vez em quando ganho uma
coisinha...
Minha casa não é só minha,
Tem bastante gente.
Tudo por causa da guerra!
Maldita guerra!
Minha tristeza começou
No ano de 43,
Meu pai se foi
E agora quem cuida de mim,
Sou eu.
De vez em quando,
Passo por um CTG,
Espio de longe,
Olhe aquela gente dançando...
E eu só olhando!
A tradição está em meu
sangue,
A bandeira em meu coração,
Este é o meu ideal...
Mesmo de longe,
Minha luta é homenagem a esta
terra!
Já são cinco anos nas ruas,
A vontade de viver foi
Que me deu forças,
Porque eu enfrentei tudo!
A chuva que batia na minha
cara,
A barriga que roncava
E o medo.
Tudo sem reclamar.
A vida é uma escola pra mim,
Estudo não
tenho,
Sou alguém que briga pra
viver!
Conto essa história,
Porque uma vez não foi o
bastante...
Ainda busco reconhecimento.
Pois não é pra qualquer um,
Essa vida é uma batalha.
Minha luta não terminou,
Nem está perto do fim.
Eu vou mostrar pra quem
duvidar
Que o sangue que corre em
minhas veias
É de fibra forte!
Herói não
quero ser,
Porém anônimo também não.
Pois de lamentos não vou
viver,
Nem espelho
quero ser,
Só quero mostrar que o meu
sofrimento
Nãoé qualquer um que agüenta.
Sou de raça boa,
Como meu pai...
Pelas ruas ainda vivo,
Quero apenas que minha luta
Mostre para todos
Que sonhos nunca morrem!