VELHO PONCHO
Luiz Menezes
Velho poncho cobertor de
rancho pobre
Companheiro de incontáveis
invernias,
Minha carpa caminhante, me seguias
Aquecendo a minh’alma
de andarilho.
Foste fiado pelas mãos de uma
xirua
Que aprendeu por aprender sem
saber como.
Foste cofre de meus íntimos segredos
Na carícia de uma china de
outro dono...
Foste o calor emalado na garupa
Do meu zaino, manso, Bueno e estradeiro
E tendo o meu violão como
parceiro,
Quantas vezes nos perdemos no
entreveiro
Das bailantas
mal-faladas do meu pago...
Escondias minha adaga
cortadeira
Que servia pra calar o
desrespeito,
Que o bolso já furado da bombacha
Só saía como último
argumento...
Mas o tempo nos fez trapos
esquecidos
Velho poncho, sem gelar o
nosso afeto.
Hoje ao te ver cobrindo o
corpo do meu neto
Sinto que segues embora velho
a tua lida.
Ele será outro gaúcho eu te
garanto,
A respeitar as tradições
desta querência.
Por isso aquece, velho
poncho, a sua inocência
Que é a alma do Rio Grande
ainda menino.