UM RANCHO NO CÉU

Luiz Menezes

 

Depois do almoço

uma chuva mansinha

com jeito de china

que leva uns galopes,

chegou despacito

no rancho do serro

onde vivo solito

por gosto no mas...

 

Bombeei pra meu catre

esqueci os compromissos...

Total pra que pressa?

Eu faço amanhã...

tira uma pestana

era só o que eu queria

coberto com o poncho

que a china gostava...

 

Bonita e arisca e sempre emburrada,

a troco de nada

se foi “a la cria”.

Total que me importa,

de barriga cheia,

diziam os antigos:

“da até congestão”...

 

Dormi como pedra

que toma cidreira,

“la pucha” que sono

que chuva cantando.

Uns lindos “recuerdos”

que fezem morada

no peito da gente.

 

Montei no meu zaino

um chucro petiço

que nunca na vida

ganhou uma carreira;

emparelhei a nuvem

que passou correndo

e no grito de “bamo”

até luz destapei.

 

Lê juro parceiro

foi esta carreira

mais linda e primeira

que o zaino ganhou.

O que não inventa

o tal sonho da gente

pois foi num repente

já estava no céu.

 

No final da cancha

clarão de candeeiro

e a lua, parceiro

um rancho mostrou...

de longe se ouvia

violões e cantigas

e verso bonito

que o índio dizia.

 

Um rancho de poeta

quinchado de estrelas

jardim de poesia

arco-íris em flor;

conheço este rancho

gritei pra meu zaino,

conheço o gaúcho

na voz desse taura.

 

É o timbre perfeito

da voz da saudade,

pois nunca no pago

haverá outra igual.

Conheço-lhe as manhas

de noites boêmias

de chinas e violas,

pois fui seu cantor.

 

Decerto o Onofre

que é santo, lhe esconda

o trago de canha

que não bebe mais;

pra que não lhe tente

qual tantas mulheres

que foram poesia

em seus tragos de amor.

 

Conheço este rancho

seu dono, seu mundo

porque de seu lado

uma vida vivi;

vaqueano Fagundes

- irmão e amigo -

um baita gaúcho

de nome Darcy.

 

Eterna presença

na voz de outras vozes

cantando a querência

ao som dos violões

enquanto no pago

chorarem cordeonas

e noites de rimas

rondarem fogões.