ÚLTIMO POUSO

Luís Menezes

 

A morte a china me leva

traiçoeira que até dá pena

vive a pelear gente buena

sem se importar com o gaudério

não sei que estranho mistério

na minha emoção se espelha

quando minha alma se ajoelha

ante a cruz de um cemitério.

 

Fico por horas bombeando

fingindo frases fictícias

que ali ficam com as notícias

penduradas sobre a lousa

dizendo ó tu boa esposa

dorme em paz aos pés de Deus

que dirão então os meus

de mim que sou qualquer coisa.

 

Basta morrer pra ser Bueno

basta sofrer pra ser justo

quem nasce ou morre de susto

nem frases fingidas tem

e dizer que no além

as almas são tão iguais

pra que estes luxos demais

depois que somos ninguém.

 

Mais feliz é a cruz solita

longe no ermo da estrada

sem fitas sem flor sem nada

marcando o fim de uma vida

fica dormindo aquecida

no sol que logo a desbota

sem frase  fria ou lorota

nesta sesteada comprida.

 

Gosto da cruz do proscrito

na solidão da campanha

tendo a garrafa de canha

por promessa recebida

me dêem esta cruz perdida

pra que o gaúcho passando

viva sempre me acenando

numa eterna despedida.

 

Tomara que Santo Onofre

seja no céu meu parceiro

garanto que o dia inteiro

vamos beber canha e vinho

e assim farei  meu cantinho

na invernada do Senhor

serei mais um pecador

tendo um santo por padrinho.

 

Sei que vão falar de mim

por mulherengo ou andejo

mas fica aqui meu desejo

expresso nesta oração

não falem de um coração

que no céu não terá luz

e amarrem bem minha cruz.

com as cordas do meu violão.