ÚLTIMO PEALO
Luiz Menezes
Morena
linda te chegaste como um sol
Ao bambural
do meu potreiro de existência,
O teu olhar - olhar que tem
da flor a essência -
Encheu de luz este meu rancho
solitário;
Mas já é tarde, meu amor, fiz
meu rosário
Das “três-marias” boleadeiras da descrença,
Por Deus
não queiras te ajoujar na indiferença
De um coração xucro no amor e
perdulário...
Morena és vida, és sonho és
poema boliçoso
A prefulgir
sobre o inverno que me abraça,
És a estampa pampeana de uma raça
Canto e poesia das serestas
do meu pago;
Mas o teu sonho de amor,
morena, é vago
Como o silêncio negro e frio
da madrugada...
Não faças ninho sobre a
árvore cansada
Não busque a estrela
refletida sobre o lago.
Morena linda resplandente de alvorada
Foge do ermo amargo e fundo
da tapera,
O nosso amor foi sonho louco
de quimera
Que a luz mortiça do
candeeiro iluminou;
O João-de-barro já de há
muito sepultou
O coração, fechando a porta
de seu rancho
E se este
sonho de esperança hoje desmancho
É porque a luz deste candeerio se apagou.
O sol se agacha sobre as
ancas do horizonte
Vê como é linda a poesia
desta cena,
Te chega aqui, para escutar na tarde amena
O sino ao longe na igrejinha
do povoado;
É o funeral de mais um dia e
no alambrado
Até o vento vai nas cordas bordoneando...
Ò quanta prece vão os ranchos
derramando,
Ó quanto amor igual ao nosso
sufocado!
Corre os varais sobre a tronqueira
deste amor
Mas não me cerres
a porteira da amizade;
Quero dar alce pra meu pingo soledade
Sob a cacimba dos teus olhos cismadores.
O corredor do tempo é o
bálsamo das dores
E tu recém andas em meio a
minha estrada...
Não te lamentes se de mim não
levas nada;
Eu tudo perco não possuindo
os teus amores.