TROPA AMARGA
Luiz Menezes
A tropa se perde
Espargindo searas
De angústia e revolta;
Palpita no seio
Da massa faminta
Esse grito de horror!
O rancho sucumbe
Na leva que passa
Sulcando misérias,
De há muito secaram
Nas bocas exangues
Palavras de amor...
Emigram dos campos
As mãos calejadas
Do pobre rural,
Na vã esperança
De abrirem caminhos
Além do horizonte...
Mas logo as estradas
Crivadas de cruzes
Demarcam fracassos,
E a tropa se arrasta
De sede, de fome
Bem perto da fonte.
No êxodo triste
Os olhares são preces
Num cântico bárbaro;
Perduram só
lendas
Oriundas de glórias
De he muito sepultas.
Olhai essa tropa
Senhores da terra
De nomes ilustres,
E vejam o abismo
Cavado na senda
Por forças ocultas...
Penetrem no rancho
Senhores da terra
De nomes ilustres,
E vejam o Pampa
Aquecendo tristezas
Num fogo de chão...
E ouçam o ronco
Da cuia de mate
Gritando revolta,
Da terra que amamos
Do amor que é fartura
Do trigo que é pão.
Encilhem seus pingos
Enquanto essa tropa
Cansada, descansa;
E sangrem depressa
O boi-desengano
Que é mui caboteiro...
Pois tropa de fome
Não teme aramado
Nem teme consciência,
E o boi-esperança
Rondando a tapera
Morreu no potreiro.
Dêem rédea ao progresso
Porque a tradição
Não tem medo do tempo
Se a honra perdura
O Rio Grande está salvo
Sairá do abandono...
E o grito do Índio
Ecoando no pago
Dirá novamente:
Esta terra tem dono!
Esta terra tem dono!
Esta terra tem dono!