REPONTANDO AUSÊNCIA

Luiz Menezes

 

Quando dou largas a meu pensamento

Sinto no peito os entreveiros loucos,

Dessa tropilha,  - minha mocidade -

Que vai morrendo lentamente aos poucos.

 

E nesse instante o poncho do silêncio

Cobre minh’alma e a guitarra aquece;

Vem de meu canto este murmúrio breve

E todo o canto se transforma em prece.

 

Meu verso é sombra de caminho morto

Onde não cruza sequer alma penada,

Mais solitário do que cruz de pobre

Que a gente encontra entristecendo a estrada.

 

E penso amargo nos meus anos verdes

Quando era rico de meus sonhos potros,

Quando sabia rir no riso alheio

E até chorar na lágrima dos outros...

 

E vejo a várzea da minha querência

Meu velho rancho, cinamomo à frente:

Bato na porta, não conheço o dono,

O rancho é o mesmo...o dono é diferente.

 

Meu velho rancho que barriei de afetos

Luz de candeeiro foste em minha aurora,

Nesga de luto que fixou da ausência

De um mundo lindo que não tenho agora.

 

E hoje que falta em minha vida errante

O chimarrão, afeto da querência,

Meu coração tropeiro segue em frente,

Vazio de penas, repontando ausência.