PAISANO
Luis Menezes
Um dia chegou de longe,
Nunca se soube de donde...
Chapéu quebrado na testa
E um lenço preto ao pescoço
Negro como pensamento
De uma china despeitada.
E afinal ficou de peão,
Da estância de “Seu” Quirino.
Primeiro que levantava
Ao canto do quero-quero
Pra impessar
a lida do dia,
E quando lhe davam um alce,
Passava grozeando
os cascos,
De um rozilito
cinzento,
Pingo que era um pensamento
Segundo seu comentário.
Ninguém sabia seu nome,
Talvez, nem mesmo o patrão.
Mas quando de noitezita
A indiada puxava um banco,
Em derredor do fogão,
Lá sobe um canto solito,
Um pinho entrava de manso
Cantando coisas bonitas,
Que faz a gente pensar.
E finalmente a peonada
Se
acostumou com o estranho
Pra todo mundo da estância,
Era o paisano. No mas!
Talvez por seu mutismo,
Despertava nas mulheres,
Caprichos de coração.
Porém muito maneiroso
Fazia sempre segredo,
Quando por necessidade
Precisava do carinho
De alguma china qualquer.
Depois, voltava solito,
Ao trote do seu rosilho,
Levando para os pelegos,
Mais uma história de amor.
E finalmente aos pouquitos
Por ser pronto servidor,
Foi conquistando a amizade
Desde a peonada ao patrão.
E foi num final de tarde,
Que alguém entrou no galpão
E disse pros que mateavam
Que uma patrulha do povo
Buscava um sorro qualquer.
O que se ouviu de repente,
Foi uma voz que de um canto
Falou por primeira vez,
Dizendo apenas-
To aqui!
Foi como se lá do céu.
Um trovão se desgrudasse
Preludiando temporal.
Logo o galpão foi sitiado
Pela patrulha do povo,
E até parece mentira,
Que um indiozito
tão quieto,
Pudesse ser tão ligeiro
Na hora do ferro branco.
Quando cessou o reboliço,
Os gritos do entreveiro,
Jaziam lá no terreiro
Três índios ensangüentados.
E a longe, na polvadeira,
O rosilito
cinzento
De cascos bem aparados,
Debandava proutros nortes,
Talvez para a banda Oriental.
Levava apenas no lombo
Um guapo e quieto paisano,
Que um dia chegou de longe,
Nunca se soube de donde.