NA RONDA DO TEMPO
Luiz Menezes
O Tempo, caramba!
Tropeiro da vida
Repontou-lhe os dias
Mais lindos vividos
Pra estância do olvido
Deixando-lhe só...
E o taura,
calado
Outrora estradeiro,
Perdeu-se do rumo
De seus companheiros,
Que foram os primeiros
Bandearem pra lá...
Riscou estes pagos
Rasgando caminhos
Bebeu largos tragos
Na cacimba em flor.
Cantou o desamor
Do amor que queria,
Em horas tardias
Com voz suplicante,
Foi lírico, amante
Boêmio e cantor.
Só o Tempo, Senhor,
Foi maula
e fugaz.
Que amargo é o tempo
Que vai e não volta;
Se mais lindos os dias
Mais célere passa
E ainda faz graça
Da cara das horas...
Só ficam lembranças
De breves momentos,
Cantigas do vento
Da insana invernia,
Mais triste, mais fria
Pra quem vive só...
À beira do fogo
Solito, mateando
Há um velho escutando
O silêncio sem cor.
É o Tempo, Senhor,
Cruel realidade
Que invade a saudade
Na ronda final.
É o bem e o mal
De mãos enlaçadas,
Seguindo as pegadas
De um velho cantor...
Na ronda da vida
Sou o último quarto
E nunca me farto
Da ronda rondar...
Me emponcho
em recuerdos
Me agarro às lembranças
Num fio de esperança
Do meu assobio...
E sinto o vazio
Da ronda no fim:
É o Tempo, caramba!
passando por mim.