FAZ TANTO TEMPO

Luiz Meneses

 

Era dessas lavadeiras

que deixam as roupas bem alvas

perfumadas de limpeza...

 

Tinha as mãos muito judiadas

muito brancas, enrugadas

na sanga, nas madrugadas

do inverno da campanha...

 

Mãos mais velhas que a velhice

que só sentiam carícias

quando se uniam na  prece.

 

A pá batendo na roupa,

é como se ela batesse

nos trapos dos desenganos

que não pudera lavar...

 

Ajoelhada sobre a pedra,

ia cantando cantigas

que aprendera quando moça

bem lá no fundo do tempo...

e a correnteza do arroio

alheia, se renovando

ia passando... passando,

como tempo sem voltar...

 

Quando alguém lhe perguntava

qual era bem sua idade,

o seu olhar de repente

tinha um clarão inocente

respondendo ingenuamente

que não soubera contar...

 

Era dessas lavadeiras

que deixam as roupas bem alvas

perfumadas de limpeza...

 

Faz tanto tempo! No entanto

nem sei por que, de repente

me volta a imagem, inocente

da velhinha Margarida...

que só sabia lavar,

cantar, rezar - sem chorar -

e a própria mágoa afogar

no arroio grande da vida.

 

E hoje quando olho o céu

e vejo nuvens branquinhas,

fico pensando... pensando

numa lembrança perdida:

por certo foram lavadas

enxugadas e passadas

por duas mãos enrugadas

da velhinha Margarida.