DIVAGAÇÃO

Luiz Menezes

 

Oh rudes varais da vida!

Velha porteira dos sonhos

Que aprisionaram meus cantos

No potreiro do luar...

Namoro a estrada poeirenta,

Ouço violões na distância,

Mas estes varais da vida

Dizem que é tarde demais.

 

Oh luar, estrada, versos

Irmãos dos dias sem cor.

Sempre uma canção de amor

Buscando fugir de mim.

Por isso somos assim

Ébrios e apaixonados

Luar, estrada, irmanados

Neste destino de andar.

 

Luar, estrada que um dia

No meu sonho fantasia

Eu pintei de serenata

Com o sereno dos bordões.

Hoje este silêncio amargo

Dá-me a cor de outra razão:

Sinto falta da canção

Que escrevi não sei pra quem.

 

No candeeiro do luar

Que vem alumiar a noite,

Sinto frio, sinto o açoite

Do verso que fiz, doer...

E olhando assim para o nada

Ouço um resto de oração.

Ou será meu coração

Que parou sem eu saber?