CORAÇÃO BAGUAL
Luiz Menezes
Neste meu peito bagual
Quanta saudade, xô égua!
A mágoa que se carrega
E sempre dura de roer
Por isso, pra recorrer
A invernada da lembrança
Emaranhando na trança
De alguma china passada,
Eu evoco a punhalada
Num rompante de atrevido
Para afogar um gemido
Que não sei onde esconder.
Não falo de bem-querer
De amores só levei tombo!
Ind’hoje trago no lombo
Recuerdos dessas tropeadas
Por isso só de sesteadas
Dou rédeas ao meu cambicho
Pra que o primeiro bolicho
Me esqueça a china de há pouco
A quem num beijo por troco
Lhe deixo uns cobres qualquer.
Não me enrabicho em mulher
Que se vende por tão pouco...
Baba de cachorro louco
Dizem que é pior que a
mordida,
Por isso china atrevida
Sempre nos deixa saudade;
É resquício de maldade
Com raiz de erva daninha
Que em nosso peito se aninha
Se rebolcando
também.
Não me engarupo em ninguém
Para aliviar o meu mal,
Pois este peito bagual
Já fez tanta estrepolia
Que a china que mais queria
Foi a que mais fez sofrer...
E hoje ao envelhecer
Numa ironia de entono,
Quem já de tantas foi dono
Não tem ninguém pra querer!!