BARRO E SOL

Luiz Menezes

 

Nos dias negros de panelas magras

Quando até a fome é canto de esperança,

Olhava a estrada, cismarento e mudo...

Mas era moço e a vida uma promessa.

 

Olhava o rancho, filharada à volta

E uma guitarra descordoada e velha,

Seu canto agora traduzia angústias...

Mas era moço e a vida uma promessa.

 

Cantava as mágoas pras quatro paredes

Enfumaçadas de seu rancho tosco...

Canto e milagre, porque só um milagre

Dizia ao moço:  a vida é uma promessa!

 

Trazia n’alma apenas barro e sol

Café e farinha no almoço pobre...

Reza e silêncio junto à imagem Santa,

Mas era moço e a vida uma promessa!

 

E tantas foram, suas lutas, tantas!

Que se seguiram pelo tempo-estrada...

Que hoje velho, vê no verso triste,

Toda a grandeza em não ter feito nada!