ASSOMBRAÇÃO
Luiz Menezes
Rastreando recuerdos
Meu verso se perde
Entre muitos atalhos.
Sonhando me abanco
À beira do fogo
Dos meus devaneios
E fico campeando
Estórias e lendas
Em muitas lembranças,
Estórias que fazem
Mistério e crendice
Do medo do assombro.
Do velho Chandico
Que na sexta-feira
Virava num bicho...
E todos falavam
Num falso segredo:
“Ele é lobisomem!...”
Da dona Felícia
fazendo mandinga
pras moças casarem...
e foi mais de um
casamento arranjado
lavando o mau-passo...
Do causo da Noca
E o
“almofadinha”
Que viera do povo.
Ele mal de dinheiro
E com pouca vergonha
Bandeou no interesse.
A moça não era...
E ele não tinha
E assim se entenderam,
Fazendo crescer
A fama de bruxa
Da dona Felícia.
Rastreando recuerdos
Meu verso se perde
Entre muitos atalhos.
De uma carreta
Que andava solita
Por cima das águas,
No arroio do Turco
Em tempos de enchente
E ninguém duvidava.
Surgia a carreta
Do meio das nuvens
Tapada de estrelas,
Que iam ficando
Nas águas barrentas
Do arroio fantasma.
Os causos
no entanto
Que me fascinavam
Falavam em taperas...
Se bem me recordo
No tempo criança
Com medo curioso,
Eu ia tremendo
Pra ver bem de perto
As ruínas escuras,
Da velha tapera
A tapera da cruz
A mais assombrada.
Segundo contavam
Se a lua era cheia
Podiam esperar...
No meio da noite
Rasgava uma gaita
E o baile estourava.
Porém de repente
Uma voz cavernosa
Virava a tramela:
“Te pelo a curuja!
O que ta pensando,
Seu fio-da-mãe?!...”
E lá vinham tiros,
E grito e gemidos
Dum baita bochincho...
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Havia os mais tauras
Que se aventuravam
Chegarem por perto.
Porém lá chegando
Encontravam somente
Silêncio e mistério...
Das ruínas perdidas
No meio do campo
Apenas corujas,
Saíam na ronda
Da tal assombrada
Tapera da cruz.
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Rastreando recuerdos
Meus versos se perdem
Entre tantos atalhos,
Que às vezes esqueço
Do baita fantasma
Que é o meu coração.