AS CRUZES
Luiz Menezes
A moça era linda como a luz
da aurora
Seus cabelos negros como picumã.
Tinha olhar profundo,
misterioso e vago
Escondendo o trago do vinho
do mal...
Por bonita e maula se fingindo sonsa
Foi traidora e fria no
enredar dois guapos.
Ao brincar de amores fez
clarear adagas
Numa noite negra como a
solidão...
Porque Dino e Lima que eram
bons amigos
Se
engraçaram à toa nas changueiras ancas,
Do jeito matreiro daquela pinguancha
Que mais de que ciúme, preludiava a morte...
Contam que uma tarde lá
depois de uns tragos
Os dois apostaram que seriam
donos...
E a trigueira moça dividiu
carícias sem saber
Que um taura
não reparte afetos...
Ambos se perderam num final
de noite
Disputando a moça que não foi
sincera...
No amor o guasca joga a
própria alma,
Porque a honra é preço que só
a morte paga.
Riscaram de fogo com raios de
adagas
O céu frio escuro da
desilusão...
Era tudo ou nada num jogo sem
volta,
Quando a fúria acende
apaga-se a razão.
Duas cruzes toscas na beira
da estrada...
Dos causos é intróito, nos
tragos da venda.
Uma negra estória que de boca
em boca
Vai varando o tempo, se
tornando lenda.