ACALANTO DO HOMEM SÓ
Luiz Menezes
Olhou para as mãos trêmulas
Para os braços descarnados,
Com o olhar vago e cansado
Lutando para enxergar.
Marcara-lhe a face, o tempo,
Sulcando-a de rugas fundas;
O cabelo cor de neve
Completava o quadro triste
Do homem e a solidão.
Quadro sem brilho, sem vida
Sem cores de arco-íris...
Um quadro feito de cinzas
Pintado de barro e sol.
Metamorfose da vida
Que fez do menino e homem
Um ancião lúcido e só.
Olhou em redor, ninguém.
O vento varrera o tempo
E os seres que mais amara
No tempo também se foram.
A noite apagara vidas,
Vidas agora lembranças
Lembranças e nada mais.
Na procissão interior
Dos anos que já vivera,
Desfilavam lentamente
Cantos de párias
insanos
Negror de gritos perdidos
Dos que não tem amanhã...
E nessa noite chorou.
Chorou um choro sentido
Na lágrima solitária,
Da angústia interior e fria
Do homem ponto final...
Naquele asilo de velhos
No seu quarto de silêncio
Cantava o poema saudade
... E era noite de Natal.