SONHO POVOEIRO
Luis Lopes de Souza
Longito...
Cruzando por um atalho,
no descambar da coxilha
de um campo de cima da serra,
vinha o velhito cansado
de mais uma viagem ao povo...
Caminho...
onde miles desgraçados,
despilchados sem
patrões
buscavam ao longe o povo
arrastando precisões,
no passo lerdo dos potros,
num rumo, que foram outros...
por ali o velho ia,
por ali o velho voltava...
E o piazito
em desparada
em seu flete de taquara,
deu um alce a meia rédea
para encontrar o velhito
com um sorriso na cara,
depois, a passos ligeiros
dentro da calçota curta,
vinha com os olhos compridos
para o semblante do pai...
Quanta ilusão se passava
pela cabeça do piá...
ameaçava interrogar,
em seguida se calava...
não sebia perguntar
nem tão pouco formular
a pergunta singular
de, como era a tal cidade?
Se era um lugar bonito
como ele imaginava,
porque aquele velhito
sempre ia mas voltava?
Ele, piazito
da campo,
num tempo em que a infância
lhe dava por faz de conta
uma ilusão repartida...
Por um lado, largos campos,
por onde o piazote moço
ansiava por aventura,
pealava gado de
osso
refugador de mangueira,
numa estância em miniatura
á sombra das laranjeiras...
Por outro lado, as
estradas...
nos brinquedos faz de conta
as marcas da evolução,
arrastando pelo chão
sua “jamanta” de madeira,
transportava ingenuidades
construindo uma cidade
a sombra das laranjeiras...
todo o sonho é Bueno,
mas nem sempre a realidade...
Um instinto de mudança
brotava nas gerações,
pois, num piazito crioulo
meio guacho pelo pago
nascia um sonho povoeiro...
Na verdade era ilusão...
A ilusão do modernismo
com sabor de jeito novo,
gosto e cheiro de povo...
E tudo o que o pai trazia
ao retornar da cidade
tinha um cheiro diferente,
um cheiro de novidade...
era um cheiro artificial
conquistando a humanidade...
era um cheiro diferente
do cheiro de campo e de boi,
de trevais e maçanilha,
naquela estância ausente
onde vivia contente
tão feliz e não sabia.
Mas e esse tal de povo?
Se era um lugar bonito
como ele imaginava,
porque aquele velhito
sempre ia mas voltava?
Monotonia perfeita
para um ingêuo sonhar.
Pois, todo sonho é Bueno,
mas nem sempre a realidade...
Setinha os campos, um pago,
uma pureza no olhar,
se tinha potros fogosos,
o catre, a seta, o charque,
e nos alolargos do pago
sem precisar aramado
razões pra felicidade...
mas o tal de modernismo
sempre ilude um cristão
jogamos fora um mundo
só pra seguir a intuição...
O piazote
foi crescendo
pedindo uma explicação.
Mas e esse tal povo?
Se era um lugar bonito
como ele imaginava
porque aquele velhito
sempre ia mas voltava?
...um dia o piá ficou moço...
Longito...
Por aquele mesmo caminho,
por onde o velho ia
e por onde o velho voltava,
naquela mesma coxilha
de um campo em cima da serra
o moço se foi, descambou...
abandonou a querência
e o pago onde se criou,
foi conhecer a cidade
que sesde guri sonhou...
...perdeu a felicidade,
mas nunca mais retornou...