RESENHA DA SAFRA AMARGA

Luis Lopes de Souza

 

Na areia da ampulheta

germina a desilusão,

se o resumo da colheita

não enche a cova da mão...

 

Quantas leivas emborcadas...

no cambaleio esguio

de um arado despacito...

onde um pé garrão rachado

sangrava dentro da verga

sementes de sacrifícios...

 

Quantos provérbios de pena...

com a junta de salinosa

envelhecida na canga,

um dialeto irracional

mesclava homens e bichos,

confidentes ignatos

na amargas do ofício...

 

Foices podavam tigüeras

galgando solais de cerros,

enxadas deitavam buvas

sobre pingos de suor.

saraquás ganhavam mãos

fecundando as searas

que se alastravam verdolengas

nas clareiras das coivaras...

 

E os carrascais encardidos

no esboço do arrebol,

vestiam a outros matizes

no lume carbonizante

das brasas rubras do sol...

 

Depois...as chuvas fugazes

eram dispersas e ausentes,

e a espiga em florescência

mais morrente que vindoura

bebia raleadas gotas

no céu ermo da lavoura...

E no semblante nublado

do terrunho semeador

reluziam incontidas

lantejoulas cristalinas,

entre vidrilhos salgados

na inocência das retinas.

 

Quando as mãos bebiam grãos

no manancial da colheita.

num paiol sempre vazio

sobravam mangüás e cestos

restolhos também sobravam...

nunca saciando surrões,

nem bolsos, nem apetites.

Mas, os anseios redobravam

na resteva da paciência,

de um eito grande de covas

com mudas de persistências...

 

As safras se sucediam

e a seqüência da labuta

jamais vergava seu braço,

como quem segue fiel

os dizeres convincentes

no rol de alguma cartilha

com instinto de sapiência,

pra transformar os fracassos

no escasso pão pra família...

 

Agora, só é alquebrado

nas mãos magras, gordos calos,

calo na alma também ...

Sua vida, foi uma seara

desprovida de fartura,

rendeu em abundância

desencanto e amargura...

 

Na areia da ampulheta

germina da desilusão,

se o resumo da colheita

não enche a cova da mão...

Mas, sempre haverá um terrunho

enraizando esperanças.

colhendo em safras de sonhos

estrelas do universo

pra semear em boa lua

na aridez do meu verso...