O ESTOURO
Luis Lopes de Souza
Um corisco...retumbou
tremeluzente
prenunciando a tempestade!
E a tropa sobressaltada
redemunha
encontradiça
nas trevas da madrugada...
Um touro osco-fumaça
rotulado por feroz
nos meandros de um rodeio,
tranqueia teso
bufando
como um caudilho em revista
ás tropas de seu comando...
O ronda corpeia
o flete
pra o rebelde irracional
se apartar no campo aberto...
foi um abrir de comportas
pra um represa de touros,
rolando pelos acasos
do mais selvagem estouro!
Um mar convulso de chifres
e um trovejar barbaresco
de alambres, cascos e ossos
assombram a noite voraz,
num quadro mais que macabro
aclarado de improviso
num relâmpago fugaz...
O indiscritível
furor
do tropel alucinado
lembrava trágicas lendas,
e o pago reencarnado
em atávicas contendas;
...a taquara contra o aço!
...o clarim contra o poema.
...os donos contra os
intrusos!
...um lunar contra os escudos
de mil Hispanos e Lusos...
...fantasmas sanguinolentos
de bravos de outra cores,
levando nos peitos negros
o rubro vivo dos rombos,
pra um obscuro revide
na “batalha dos porongos”...
...quando calou-se
o estrondo
de patas ágeis no chão,
num pardacento arrebol
ficou o eco de um trovão,
qual gigantesco leguera
sem consistência no tom...
Embarcados sobre o pasto
novilhos agonizavam
num inocente holocausto...
a contristada dolência
de tão horrenda lamúria,
lembrava heróis da querência
algozes da própria fúria...
o dia veio despácio
alumiado por um sol
desmatizado e
escasso,
com centenas de carniças
numa clareira barrenta,
pra ser banquete repasto
da corvada famulenta...
Parecia tudo calmo
nessa manhã malograda...
Quando, no trono de uma coxilha
um mugido imponente
tronado como um
mandado
estremeceu os gaudérios.
Era o touro osco-fumaça
qual um rei petrificado
mangrulhando o seu
império...
Tinha na estampa de guapo
o entono de um gaúcho:
-No perfil da rebeldia
a audaz ferocidade,
e na indômita semelhança
o instinto de liberdade!