O ESCRAVO
Luis Lopes de Souza
Semeei pétalas de rosas
sobre o mimo de teu rosto
soprei com carinho o pó
no cristal de teu sapato.
Lambi meus lábios ressecos
pra ser água em tua sede,
fiel a teus ideais
fiz dos meus, meus inimigos
e plantei mangrulhos insones
pra imuniza-la ao perigo...
Reguei sombras do deserto
pra protege-la ao relento,
andejei com braços férreos
transladando o teu trono.
Nos momentos infortúnios
fui o bobo em tua corte,
na arena de teus silêncios
me fiz palhaço pra ti
ousando a vã esperança
de poder vê-la sorrir...
Me
penitenciei em teu lugar...
flagelei a alma e a carne
pagando por teus pecados,
fui condenado, excomungado
sem hesitar nem temer,
voluntário e indolente
só pra não vê-la sofrer...
Fui teu escudo de guerra...
Lanças rasgaram meu peito
pra ser minha a tua dor,
meu sangue esvaiu-se rubro
pra ser tinta em tua pena,
chorei pelas tuas mágoas
lágrimas sinceras e puras
sentindo o sol da tristeza
e o asco frio da amargura...
neguei as leis e a Deus...
Como súdito e escravo
me ajoelhei frente a ti
e rastejei a teus pés
sem permissão pra chorar,
implorando o perdão
por você sempre negado,
por te amar em segredo
no mais sublime pecado...
Me
apresentei sem esquiva
á mão carrasca do tempo
pra morrer em teu lugar...
E morri... certamente
por teu insano capricho,
que eu buscasse lá no céu
a cintilante estrela,
sem brilho perto de ti
mas que tu sonhava em tê-la...
Mas... renasci
ao teu chamado
pra atender outro capricho...
ser novamente só teu
de alma doce e esquia,
tê-la por prenda e musa
e eternizar-te em poesia...