O CAPELÃO

Luis Lopes de Souza

 

“...Deus deixou, segundo sua vontade

as coisas fracas para confundir as fortes

e as coisas loucas para confundir as sábias...”

 

Então protegei, Senhor...esses terrunhos

que são frágeis na razão e na sapiência,

Estão predestinados ao olvido tolo

mas lutam por instinto e obediência...

são humanos ignotos e inocentes

que na eminência insana do combate

Esquecem de evocar sua clemência

E chocam indefesos a vanguarda

Num estrondo que estremece a querência...

Só se ajoelham para o senhor, esses bravos,

que são escudos humanos certamente

E tombarão mutilados pra sempre lembrados

Como másculos, heróicos e indomáveis

Com o rótulo dúbio e obscuro de valentes...

 

Protegei, senhor... essa cavalaria rude

Que impetuosa, obrupta e estremunhada

Descamba alucinada o lancante...

Que tenham muralhas nos encontros, esses potros,

Pra o baque brusco  da pechada...

Que seus ginetes tenham braços férreos

E não vacilem no brandir da espada...

Que se usem certo o valos da esquiva

Corpeando ágeis seus cavalos,

Que não recuem noterror da luta

Esmagandoa cascos o inimigo ”malo”

Daí força Senhor...A quem tombar ferido

Calai o agudo da dor mais horrenda

E estanque a sangria desses moribundos,

Que os tocos de lanças nos peitos inertes

Não sejam fatais nem rasguem tão fundo...

Que os talhos de adagas e furos de chumbos

Não passem de ardência na carne insensata,

Quem for pra morrer, que não sofra na morte,

Quem ileso pelear ajudai a ser forte...

 

Perdoa Senhor... os que mortos ficarem

De borco esvaídos no barro sangrento,

É o lúdico fim de uma frágil matéria

De humílima vida vivida em vão...

Tende pena e piedade dos fracos humanos

Perdoa as amargas de seus corações...

E traga de pressa a paz meu Senhor...

Os homens guerreiros que lutam e morrem

São tão miseráveis que ás vezes não sabem

Sequer porque lutam e sequer porque morrem...

Por eles eu peço a sua benção, senhor...

E estenda as razões desta prece apressada

Que em meio a um combate é escudo de fé

Pois tenho na alma a crença sagrada

E no peito gaúcho, o furos de Sepé...