MORTO... AGORA VIVO O PROSCRITO

Autor: Luis Lopes de Souza

Intérprete: Paulo Ricardo dos Santos

Amadrinhadores: Clovis Mendes - Violão

                            Eduardo Mendes - Serrote

Sem dor, lamento ou porque...

morreu por chegar a hora...

Agora na paz perene

de um sono bueno e profundo

o pobre andejo dormia

sem ter magoas do mundo...

 

      Livre...

      Livre dos tombos da vida!

      Livre das léguas dos anos

      e amargas da existência...!

      Tendo apenas por parceiro

      um tostado malacara

      viveu de estância em estância

      sem ter raiz nem querência...

 

Por ter fama de errante

com calúnia maldizente

era sempre repudiado...

Restava encurtar distância

sem estar indo nem vindo

mal visto, vago e sem rumo...

 

      ... muitas vezes ranchos fartos

      lhe negaram um fiambre...

      ... judiado pelos caminhos

      acostumou a sofrer,

      mas no vazio de ser nada

      quantas vezes indagou

      qual a razão de viver...?!

 

Não lhe alcançavam um mate...

não lhe cediam um pouso...

não lhe justavam pra lida...

não lhe estendiam a mão

na chagada ou na partida,

sem permisso pra falar

nem pra implorar um sorriso...

 

E era bueno... era bueno sim...

quase sempre famulento

nuca comeu do alheio...

- Poncho poido de invernias...

- Bombacha a muito rota...

- Chapéu furado na copa...

- Arreios já remendados...

Desprovido, miserando

necessitado de tudo...

Arrastando a realidade

de sua fama de errante.

 

      Nunca teve sonhos...

      por fracassado e proscrito

      não aprendeu a sonhar.

      Amores por certo teve

      mas perdeu-se por um só

      e mesmo sendo vaqueano

      nunca mais achou o rumo...

 

E os erros incompreendidos?

E o ferro em brasa no couro

por inocentes motivos...?

E o rubro sangue estanque

esvaído nos caminhos?!

E as tormentas interiores,

com estocadas de espinhos?!

 

      Por isso agora livre...!

      Sem mendigar um aceno...

      Sem a changa pela bóia...

      Sem andar só e sem razão...

 

Ninguém chorou pelo tal,

se o pobre era “mui solo”

quem choraria por ele...?

 

O tostado malacara

ficou por perto das casas

depois por perto da cruz...

Relinchando vez por outra

- Único choro talvez...!