DÁDIVA

Luiz Lopes de Souza
 

Como um mísero desprovido e coitado,
só te ofereço um gesto acanhado e rude,
este poema também pobre e tresloucado
que ao teu sorriso alcançará plenitude...

Quis tanto te dar riqueza,
sesmarias de beleza,
os frutos do meu labor...
Mas...
plantei razões para o meu canto
e um conta gotas de pranto
regou searas de dor,
...para humildade do teu sonho
só bastaria uma flor...

Então...
na busca de flor mais bela
refuguei outros caminhos,
com bruacas de carências
que juntei pelos caminhos...

- Bebi..., relutâncias de cambichos,
pelos balcões de bolichos
ébrio, errante e pecador...
golpeei tragos de desejo,
morrendo pelo teu beijo
embriagado de amor...

- Senti..., teu aroma inebriante
num desvairo de saudade
no meu olfato de amante...
e a minha alma boêmia
perdeu-se branda e silente,
na fantasia eloqüente
desse teu cheiro de fêmea...
- Vi..., teu vulto manso e frágil,
surgindo numa miragem
para consolar os fracassos
de meu capricho em evidência
que, segue um olhar de aquarela
da mais casta das donzelas
se despindo da inocência...

As flores...!
Sim... encontrei...!
Entre as lindas as mais lindas
mas não satisfeito ainda
aqui estou de regresso...
- Não posso te dar uma flor...!!!
Tu mereces muito mais
do que a mais perfeita flor
que encontrei, no universo...

- Restou, o meu poema para ti...!

...também te dou, neste regalo malgrado,
toda a pureza desta mágica virtude,
tu mereceste deste poeta olvidado
toda riqueza que quis te dar e não pude...

... ao fenecer nos perenais da saudade
entenderás, na pedra da frialdade,
a sanidade desta dádiva de louco...
... o meu poema pouco vale na verdade,
mas nele flui amor e fidelidade
maior grandeza, de quem te dera tão pouco...