BARBÁRIES QUE A HISTÓRIA CONTA
Luis Lopes de Souza
Na pampa de alma selvagem
Urgia clarins tronando,
Era a pátria dos caudilhos
Outra vez se abarbarando.
Ali.
Onde a catinga das crianças
Multiplicava a ira
Dos guerreiros da querência.
Ali,
Onde a gula dos abutres
Abria asas sinistras
Vazando olhos de guapos
Em macabra reverência...
Pai e filho,
Dois valentes,
De um combate malogrado
Se faziam retirantes.
Já buscavam um atalho
Com astúcia de vaqueano
Logo após o Passo Grande,
Quando o velho bancou nas
rédeas.
Dorso curvado pra frente,
Mão rude juntito
ao peito,
Por entre os dedos judiados
Vazava um rubro de sangue.
No seu dialeto “es libres”
De sem pátria peleador,
Uma voz saiu sofrida
Peleando agora com a dor.
“Es la última cosa hijo,
prometes?”
sim pai prometo.
“Já no puedo prosseguir
preciso quedarme aça”.
Pois Bueno,
Esperamos os maulas
que nos rasteiam
e peleamos até o fim.
“No hijo, tu siegue para
vingar-se despues,
pero, no me dejas vivo,
entendes?”
O maço, um, taura bruto
Curtido ao rigor da guerra
Estremeceu em silêncio.
“Matar um bravo por piena
es cosa para outro
bravo
e bravo yosei que tu eres.
Haja hijo,
ou morire prisionero
Desonrado e
sufridor”.
Os quero-queros gritaram
Talvez a menos de légua
E o moço em desatino
Viu o velho entonadito
Num ato frio de bravura
Ofertando-lhe a garganta
Na mais heróica postura.
Sua mão degoladeira
Fujiu do cabo da adaga
Onde a morte escondia
O terror alucinante
Da bárbara judiaria.
A garrucha se fez pesada
E a mim fugaz e turva
Camuflando a crueldade
Num sofregante
soluço
De dor, de ódio e peidade.
Uma lágrima graúda
Rolou na pestana larga
E um baque se ouviu nos
campos.
Uma cruz de guamirim
Abriu os braços roliços
Num rude gesto de “asta la vuelta”.
Quando os quero-queros gritaram
Agora já bem pertinho,
Ele montou
E descambou a coxilha
Se apagando na distância.
Levando apenas as cicatrizes
da guerra,
O ódio imortal no termpoe
a vã promessa...
Vingança!
Sim
São barbáriess
que a história conta.
Pelas guerras de “mi pampa”
Muitos morreram pelo ideal,
Outros morreram pela bravura,
Mas a maioria,
Quando as guerras acabaram
Não sabiam porque
peleavam
Ou porque morreram!