Sina Tropeira

Luciano Salerno


“Era boi...

toca, toca...

...Olha a estrada boi...”

 

A garganta firme...

os olhos fixos buscando

o destino a chegar,
a tropa seguindo o ponteiro
no compasso do cincerro
na sua sina de andar;

            Assim...

            passou a vida “Dom Olivério”

            cruzando vaus, coxilhas e canhadas

            reculutando gado alçado

no rumo das charqueadas.

 

No pouso, fogo grande,

adoçando as melodias

chiar de cambonas...

e os aboios solitários...

sustentando cada quarto de ronda.

E quando a aurora entreluzia a manhã
pela imensidão da pampa,
“Dom Olivério” com a tropa encordoada
e a alma “ajoujada” nos arreios
seguia para mais uma jornada.

“Venha boi...

toca, toca...

...olha a estrada boi.!”

 

Enfim... o destino final;
- O boi, o fio das facas lhe cobre!
- O homem, na busca dos cobres!
Pois este era o destino de ambos,
galgar por campos, serras e várzeas
deixando um pouco de si para o tempo
e a vida pelas estradas.


E nesta sina de ir e vir,
o tempo foi marcando seu semblante
na dinastia de tropear.

“Dom Olivério”...

viu surgir os fios do alambrado
e pouco a pouco foi escasseando o gado;
Pois o progresso...

trouxe a linha de ferro e o apito alto,
depois, o caminhão ponteiro pela fita do asfalto.

...Silêncio na estrada real...

...não mais o ....“Era boi...”

... perdeu-se no tempo o seu “Dom”

quando emalou o poncho...

...e se foi... ser mais um retirante,

...mais um cargueiro de sonhos
... com cincerros de prantos a tocar,
nas ânsias de quem não tem...

...mais estrada a cruzar.

O rancho virou tapera!
O caminho das tropas em estradas,
os pousos em cidades,
tudo mudado para outra realidade!

.....................................................

            E hoje "Olivério" é ponteiro

da comitiva de outro labutar,
um campo celeste...

...o fez compreender...

porquê do estradear.

 

Sim! A vida e a estrada,

os seus valores reais lhe ensinou...

...nas lembranças de um tempo tropeiro...

*...que foi o seu tempo...*

*...e acabou!*

Agora...

reponta estrelas nesta sina tropeira
que herdou dos ancestrais;
Fazendo ronda de lua em lua...
...e sumindo no horizonte...
...nos crepúsculos matinais!

 

 

*Do poema “Silêncios de um fim de tarde ”

de Guilherme Collares.