PRELÚDIO A UM CAMPO-SANTO...
QUANDO A ALMA PEDE BEM MAIS QUE CÉU!*
Luciano Salerno
Por destino ou precisão,
Rumores de ventos inverneiros vêm
Espantar lonjuras de céu na
imensidão!
Lembranças deste dia que não irão voltar:
Último vôo do quero-quero nas
canhadas,
Do aroma dos jujos pairando no ar,
Insinuante o matiz pela querência...
Onde emoldurada fixei o olhar.
A voz num repente amadrinhou o
silêncio!
Uma tropa de memórias e segredos se
foram
Morar na armada certeira que o
destino cerrou!
Cruzo a estrada real, ao tranco
lento,
Avisto longe sobre a cerca de
pedra
Monumentos a despontar perenes,
Pátinos e desgastados pelo tempo
que...
Ocultam o descanso da minha gente.
-
Solenes raios de sol irradiam o
campo-santo!
Ao cruzar o portão em curto instante
avisto
No cortejo o singular gesto que a
fé conduz;
Todos, um a um diante ao arrebol que
Ornamenta o encontro da estrela com
a cruz!
...
Quadras de campo ficam para trás
neste dia.
Uníssono cantar mudo vai consumindo
As sendas da casa grande e do
velho galpão.
No cambiar lonjuras pelo meu pago
Deixo um legado nos “pessuelos” e
O cerne será um -marco- neste chão.
Ao largo, a nostalgia se projeta
no olhar!
Alvas e acima do horizonte
sangrado...
Levitam nuvens em tênues movimentos.
Misto de fração andante e
aquerenciada
Andejam no pala celeste desafiando
os ventos.
Procuro meu tostado e o cusco
amigo,
Ensimesmado não entendo este
aparte,
De não ter avios de campo, de não
ter parceria
E de não encontrar a cuia pra o mate!
Brilham cristais diante ao meu
rosto,
Enfim percebo onde estou repousado!
Maleva! Pensei que tinha a velha -Alma de Poço-!
Marcha a comitiva até a morada, pois
A alma tem por este chão - o saber
-,
Incontida pede bem mais que céu aos
Silvos do vento abençoando o
entardecer.
Quedou-se os grilos, o crepúsculo fez
a última prece,
Uma porção de terra vem servir-me
de poncho...
E na hora do adeus a estrela
boieira pra mim aparece.
Cingida de fulgor infinito pisca uma
luzerna ao léu!
É a minha alma partindo no breu do
campo, para ser
Uma estrela na noite ou singela luz
de um pirilampo.
* Poema
inspirado no tema instrumental
- Quando Uma
Alma Pede ao Céu de Juliano Gomes